O exorcista: A esperança.

As franquias.

Não é algo novo, más principalmente depois do sucesso de Tubarão em 1975 os filmes atingiram um novo patamar de lucros e logo de visão por parte de quem os produzia, ao ser o primeiro filme a atingir a marca dos US$ 100 milhões (fez mais de 400), Spilberg e os produtores mostraram como os filmes poderiam ser máquinas de lucrar, com uma fórmula simples: Marketing certeiro.

Depois, teríamos aquele que mudou tudo: George Lucas lançaria Star Wars em 1977.

O criador foi também o diretor, teve uma visão que a Fox não enxergou e quis apenas os direitos de licença da marca. A empresa ficou com a bilheteria que não foi nada desagradável, afinal o filme atingiu mais de US$ 700 milhões, porém não precisa dizer tudo o que foi lançado de produtos que iriam dos “radicais sabres de luz” que não tinham luz e eram de plástico e tudo mais que possa existir na galáxia.

Não é Star Wars a primeira franquia, Planeta dos macacos já tinha cinco filmes e uma série de TV desde 1968 e 007, James Bond, estava em seu décimo filme (O espião que me amava foi lançado em julho e Star Wars em novembro de 77), e não eram vistos pelos criadores como algo que iria além de livros, George Lucas sabia que poderia transformar seu filme em uma verdadeira marca.

Fast Food.

Por uma dessas coincidências que não se pode explicar, o primeiro combo Mac Lanche surgiu em 1977, tinha além dos lanches um quebra cabeças e uma pulseira, e um conceito que fazia do hambúrguer algo além de refeição, mudou a forma de se enxergar a comida a fazendo atraente para um público em especial que eram as crianças e que acomodava os adultos, era relativamente barato e principalmente, simples de consumir pois basta pedir e comer, sem precisar de talheres ou pensar além, está “mastigado”. Os arquitetos dos Shoppings e galerias não tiveram dificuldade em associar as partes, colocaram as praças de alimentação e salas de cinemas próximas, o consumidor que vai até um cinema, logo teve grande comodidade para transformar o ato cultural em uma forma de também agrupar as pessoas que lhe são queridas em uma tarde ou noite agradável, não será a opção o problema já que se você quiser Yakisoba e sua companhia um pão com linguiça, possivelmente vai encontrar.

Os caras que produzem o cinema então nada bobos, viram que não se pode ficar para trás, nessa evolução de consumo se descobriu que as pessoas cada vez menos interessadas em perder tempo, e querendo se sentir recompensadas, não querem nem vão ficar preocupadas em ter trabalho, afinal é hora da diversão, de abrir espaço para uma experiência agradável. Nada melhor do que entregar para o consumidor um Mac lanche visual, o primeiro passo é a marca reconhecível.

Em “De volta para o futuro 2”, uma das brincadeiras que vemos é o anúncio de cinema 3D do filme “Tubarão 19”, se contarmos que desde o filme original tivemos três sequências e uma zona de derivados, que incluem a saga “Sharknado”, tubarão de Malibu, avalanche de Tubarão e outras, ao menos há uns trinta filmes que trazem o primeiro animal vilão popstar (King Kong não é vilão e Godzilla é anti herói e nem sei se animal é).

Outros assassinos compõem bem esse papel de marcas famosas, Jason já foi para o espaço e inferno e, em um de seus doze filmes também enfrentou outro figurão que é Freddy Kruegger, porém antes tinha tido seu “capítulo final” em 1984 para em 1985 ter “um novo começo”. Nessa linha, Michael Myers no dia das bruxas teve “o retorno”, “A vingança”, “A última vingança” entre outros e também “O pesadelo continua” e o “terror continua”, sendo esse o seu último trabalho até agora.

Wes Craven em Pânico, viu que há regras e sempre os roteiros são iguais, brincou com isso, faturou e hoje já temos seis filmes nessa linha com esse título sem precisar de nada além do número do episódio para justificar.

Temos outros exemplos fora do terror, alguns até bem originais apesar de serem derivados de outras coisas, Piratas do Caribe era uma atração dos parques Disney, Transformers brinquedos dos anos 80, e velozes e furiosos, uma franquia que nada pode reclamar se alguém disser que a inspiração vem dos games, principalmente de Need for Speed, que tentou vingar como franquia porém se atrasou.

Sobre os carros que pulam prédios, já foram para o espaço e arrastam cofres no Rio de Janeiro, é justo dizer uma coisa: não enganam ninguém, são apenas um passatempo para quem quer se distrair, não exija coerência nenhuma ou mesmo continuidade, fora o primeiro piratas e o primeiro Velozes, são uma bagunça que ao menos, vai servir como assunto se você estiver na praça de alimentação com alguém que te faça sentir mais jovem.

Em 2008, a Marvel lança “Homem de Ferro”, salva – se e salva Robert Downey Jr, porém antes dois outros heróis haviam feito a entrada para o que viria a ser a tendência do produto: Homem aranha (2002) e Batman (2005), mostraram que era possível revitalizar os heróis dos quadrinhos e o cinema era a porta.

Porém, isso trouxe para o cinema com uma força ainda maior a seta voltada apenas para o vil metal, não que haja qualquer problema nisso, más a exigência por qualidade baixou a um nível jamais visto, desde que dentro da embalagem estivesse o lanche fácil de comer e as surpresas divertidas que recompensam que são os Easter Eggs e efeitos bacanas fossem entregues.

Essa transformação do produto, teve o maior passo quando se admitiu entre as pessoas que Vingadores: Ultimato não deve ser visto como um filme, e sim como evento para distração pura e simples, ou seja: O que menos importa é a qualidade do que se consome, pode ser genérico como for, o importante é o Mac lanche.

Dizem os caras que filmes de herói estão esgotados como fonte, talvez, e não é a primeira vez que isso ocorre, tivemos os musicais, os Wersterns, O cinema Brucutu... Dessa vez a tal “indústria” torceu ao máximo a fórmula, os tais “spin offs” ganharam força como nunca antes, e isso graças aos homens - aranhas e outros que iam e vinham entre produções, chegou a um ponto de três versões do teiúdo estarem dividindo a tela e que até o Coringa ganhasse uma visão “realista” do lunático para faturar US$ 1 bilhão, e estranhamente vender bonecos Funko. Pois bem, ainda estamos nessa onda e para não deixar a linha de raciocínio morrer, nada melhor que termos o “invoca verso” com suas diversas formas do mal que vão se sustentando sem grandes roteiros más com belos Jump scares que fazem a alegria dos adolescentes principalmente quando o susto faz os casais apertarem mais forte as mãos.

Plot Twist. (e porque essas coisas se referem a mim)

Apertar mais forte, afinal por que exigir muito do que consumimos?

Eu me lembro que as melhores e mais fortes lembranças que tenho de filmes no cinema foram em Independence Day e outro filme que não lembro o nome, juro.

Lembro de uma dúzia de amigos invadindo o cinema para ver Will Smith dando um soco no alienígena, o presidente dos Estados Unidos pilotando um caça e de maquetes explodindo.

Do outro filme lembro que foi a primeira vez que saí com ela, foi o primeiro beijo, não durou muito depois. Naquela noite chegamos depois das dez, a mãe dela no dia seguinte puxou minha orelha.

Eu me lembro que depois foi tudo ficando, cada vez mais enredos, menos cenas improvisadas…

Menos lanches, mais almoços, depois nem isso.

Você mais atento, deve estar se perguntando onde está o Exorcista, pois bem, ele não vai exorcizar de mim este cinismo, não vai me devolver ao tempo onde não me importava com a física, a coerência, com o gosto. Não pode me devolver o espírito por falar no meio do filme e de depois sentar em uma mesa para dividir a zoeira e não cansar de falar, a ansiedade pela hora de ir na casa dela e o medo de seu pai já estar lá, me esperando com uma cara de quem faz o alerta: “olha lá hein” (ele nunca falou comigo pois o que menos eu queria com ele era falar)

Queria ir ver amanhã o filme do “Exorcista: O devoto” sem querer saber de nada, sem os números, sem pensar que é tudo efeito e que o diabo ou demônio não existe (?), queria ter um retrocesso temporário para sentir aquela ansiedade, aquele aperto da mão que vai até o coração e volta em um olhar que nos faz esquecer o que estávamos fazendo ou vendo e nos transforma em ocupantes de uma aventura que não precisa ter respostas ou de se pensar no preço.

Amanhã quero acordar desejando que cheguem logo as cinco horas da tarde, quero que o filme passe e quero que as batatas fritas tenham gosto.

E que ela não desista de mim.

Afonso Ribeiro jr
Enviado por Afonso Ribeiro jr em 14/10/2023
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