Conte-me o seu dia

Era um fim de noite, de uma sexta-feira bem comum.

A semana foi cansativa, sinto que nem estive ao lado dele, apenas habitamos o mesmo espaço. Cada um preso em seu próprio mundo.

Ele fez o mercado, graças a Deus, porque eu estou cansada demais e provavelmente iríamos brigar porque eu ia querer comer várias porcarias.

A vida é assim, quando estamos exaustos, aceitamos porcarias de bom grado.

Depois de estudar o não queria, de fazer coisas que não queria, nem me pergunte o que eu quero, pois perdi minha vontade própria em alguns dos choros que escoou pelo ralo. O banho sabe mais das minhas lágrimas do que ele. Como viver ao lado de alguém assim? Devo falar sobre as minhas feridas? O que você acha?

Provavelmente você também não gosta de expor certas fragilidades, e acho que isso faz parte da vida porque ficamos calejados. Cansados.

Mas eu dormi.

Dormi como se nada mais importasse.

Dane-se o mundo, minhas responsabilidades, meus pensamentos aleatórios.

Esse é o meu momento, e eu quero muito um cochilo de corpo e alma, antes que ele chegue e tire minha paz.

E me julgue.

_ "Tava dormindo, vagabunda?"

Vagabunda é a vontade que eu tenho de quebrar ele na pancada!

Não conhece nada sobre mim, sobre minhas cicatrizes, e abre a boca para me julgar? _

Eu deixo tudo preparado na minha mente para esse momento, me armo até os dentes e deito, e desmaio.

E não consigo acordar antes dele chegar.

Levanto armada até os dentes, preparada para travar mais uma guerra, afinal, eu sabia que escolher descansar significava travar uma guerra posterior.

E eu encontro-o , sem camisa, vivendo, com um sorriso de canto.

- Como vc está?

- Cansado.

Palavras curtas são um indício da raiva que logo chegará. Aquele sorriso foi só pra me amaciar e depois surtar pra cima de mim.

Mas já estou preparada, pode vim.

Agora posso debater até o amanhecer.

E então, nada acontece.

Nada do que eu imaginei, pelo menos.

O nada toma conta por um tempo, enquanto eu ainda me situo na vida, tentando racionalizar as coisas.

Ele simplesmente me abraçou, mexeu em meus cabelos, ainda estavam úmidos, e eu acho que ele gostou do cheio do meu novo shampoo, pela forma como me fazia cafuné com o rosto escondido debaixo dos meus cachos.

Abraçados, ele sussurraou algo que não consigo entender direito, provavelmente porque suas mãos ainda estavam perto demais em pontos sensíveis do meu corpo.

Droga!

Não me blindei pra isso!

Não me preparei para receber afeto.

E é estranho te contar isso, porque se você me perguntar a quem eu quero entregar o meu afeto, é pra ele, obviamente.

Mas porque me blindar da pessoa que dispõe do meu afeto?

Vulnerabilidade é uma grande fdp

Naquela noite, ele me abraçou, me beijou, me segurou em seus braços com um aperto tão forte que senti todos os ossos do meu corpo. Jantamos, conversamos besteiras , stress do dia, e deitamos.

Me aninhei em seus braços, e ele me protegeu, como de costume, e por lá mesmo dormimos, depois de trocar alguns carinhos.

Talvez amanhã eu o acorde com segundas intenções. Afinal ele dormiu, estava cansado, mas eu já havia antecipado tantas coisas, entre elas, o meu descanso.

AndoOliveiras
Enviado por AndoOliveiras em 20/10/2023
Código do texto: T7913261
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