Um Homem Chamado Inseto.

Seu nome ninguém sabia, mas costumavam chama-lo de inseto, não um inseto requintado como uma barata ou mesmo uma libélula, mas daqueles menores e vistos como pragas, pulgas e carrapatos, os mais inúteis da cadeia alimentar.

Aos 12 anos começou dar defeitos. Dava defeitos a todo momento. E até gostava disso, um cabo de embreagem arrebentado, motor vazando óleo, pneu careca, desalinhado, desbalanceado, entortado, empenado e outros desgastes mentais. E esses problemas, conforme não resolvidos a tempo, geravam mais e mais defeitos, desvios de caráter, vadiagem; violência, distorções da realidade e outras safadezas que por fim o levou ao consumo excessivo de combustivel álcool, ao fumo, ao pó e por último à pedra. A última parada é sempre a maldita idade da pedra lascata na lata ou até na palha de aço.

No caso do noia em questão, os psiquiatras já alertavam os responsáveis que seu veículo havia se estacionado nos dezesseis anos de idade, ou seja, mesmo hoje sendo uma lata velha de quarenta e poucos anos de uma vida inútil e geradora do desgosto familiar e do desgaste estatal. Caso clínico irreversível! cérebro fundido e frito à vinagrete, do tipo que nem ferro velho aceita mais esse tipo de porcaria, nem que seja como reciclagem.

Desta forma restou ao velho pai, que também não tinha lá um caráter muito confiável, a obrigação de ficar empurrando aquele entulho por todo e qualquer congestionamento, até que um dia abalroou a própria mãe, que não tem nada a ver com a história, mas não podemos deixar de citar, até porque foi ela quem gerou aquela criatura oleosa e asquerosa.

O pai tentou, pobre diabo, tentou por dezenas de vezes várias retificas diferentes, pais de santo; Umbanda, rezas brabas, descarregos, centro espírita, porém tudo em vão. O motor já estava viciado!

Outros profissionais diziam a mesma coisa: o cara era um noia, e noias são problemas em todo os escalões do sistema democrático.

Nóias normalmente são dejetos a serem arrastados pela família e até por alguns amigos pacientes que ajudam a empurrar para ver se o vagabundo pega no tranco, mas nem isso. Um noia não pensa, dá partida e custa engatar a primeira. Noia dá gasto ao sistema público de saúde, está sempre passando mal por aí, vomitando, engasgando e sobrecarregado hospitais e PS's nas madrugadas. Emporcalham tudo, vomitam e soltam graxa e fumaça por todas as ventaa.

Um noia dificilmente tem palavra, até porque esquece tudo e algumas coisas esquece de propósito. Alguns, os mais complexos, possuem até um sistema de autodesligamento automático, de acordo com as circunstâncias.

Noias sobrecarregam delegacias, Poder Judiciário, movimentam todo uma gama de encadeamentos e prejuízos aos cofres públicos e privados. Enchem o saco de todos ao seu redor com uma barulheira infernal e confusa.

Nos últimos anos, com o surgimento desses quadrúpedes, noia talvez até seja uma abreviação do termo "paranoia", da música de Raul Seixas, só que Raul jamais imaginaria que sua metafórica canção se tornasse algo a gerar um colapso no motor dessas crianças doentes.

O que resta, o que podemos concluir é que o melhor a fazer é já trocar o motor logo nos primeiros afogamentos. No mais é orar e torcer para que a natureza se encarregue do resto.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 16/11/2023
Reeditado em 16/11/2023
Código do texto: T7932961
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