Cachorro pobre

Dois homens e um garoto vão para casa almoçar, depois de uma caipirinha e um dedo de prosa num bar da redondeza. O calor é imenso, o sol do meio-dia é de rachar mamonas.

O garoto, uns 7 anos de idade, acompanha o pai e o tio. Segue caladinho, imerso no seu mundo infantil. Chuta pedrinhas, arrasta uma vara pelo chão, observa joões-de-barro, pombos, sujismundos de rua, edifícios altíssimos, o mundo em movimento, ele caladinho. Mora no interior, as coisas da cidade grande não passam despercebidas. De repente, sem aviso, exclama:

- O cachorro também é pobre,

O pai escuta, olha ao redor e detecta a origem da profunda avaliação sociológica do filho: um cachorro tira soneca à sombra de um edifício na posição do dono.