De que signo ela seria?
 

Tony Roberson de Mello Rodrigues


Não foi por falta de aviso: naquele dia, amanheceu chovendo, ele acordou com azia, ao levantar teve cãibra nas duas pernas, sentou-se no vaso e não notou que o papel havia acabado, ao tentar lavar as mãos não havia água, notou que o espelho estava quebrado no canto inferior esquerdo, a padaria não abriu como de costume, na volta um gato preto cruzou-lhe o caminho e ele tropeçou na lajota. E isso tudo antes de tomar seu café.

 

Talvez por não desistir facilmente de seus sonhos e intentos, ao retornar para casa apressou o passo, com renovada alegria... e quase foi atropelado pelo Fiat Uno, passou por baixo de uma escada e a escada balançou, um cão feroz que fugira quase o atacou, ao chegar ao recinto não encontrou as chaves do apartamento...

 

Trancado pelo lado de fora, decidiu pagar pelo limão e fazer a limonada: deu de ombros e saiu para caminhar, tomou um sorvete na confeitaria, comprou queijo colonial na feira, foi à biblioteca e emprestou uma antologia do Vinícius. Sentado no ponto de ônibus, no fim da tarde, uma moça aproximou-se o dia do mês e da semana, ao que ele se lembrou e disse:

 

— Dia 12 de uma quinta-feira... — e então teve uma epifania: — Mas claro! Amanhã é sexta-feira 13!

 

Estava ali a explicação para suas desventuras, ocorridas de forma antecipada, no dia de véspera. Sendo sagitariano convicto, porém, não acreditava muito, nem desacreditava tanto, antes fosse canceriano com ascendente em aquário, como sua avó materna, que Deus a tenha. E então se esqueceu de que a caminhada foi prazerosa, o sorvete estava uma delícia, pagou barato pelo melhor queijo, o livro do Vinícius era o seu preferido, e a moça, ahhhh, aquela moça: era o único presságio real de que algo realmente mudaria (para muito melhor) em sua vida, uma semana depois, naquele mesmo ponto de ônibus.

 

Não foi por falta de sinais: ele não enxergava mesmo, mas sua epifania não era párea para a certeza de que ela tinha de que ele, naquele banco, esperando o ônibus, era o sinal de que ela precisava para dar uma chance a si mesma, e se não desse certo, paciência, alea jacta est.