NEM MORTO DEU SOSSEGO

Ele era chato, ninguém aguentava aquele mala, suas brincadeiras eram sem graça e depois que bebia sua chatice triplicava. Onde chegava todo mundo saía, uns de fininho, outros rapidamente, nas festas sua mesa era sempre a mais vazia, sentava-se com ele quem não tinha outra opção e mesmo assim se fosse possível ficar de pé, então ficavam.

Nem os sobrinhos gostavam daquele mala sem alça, um verdadeiro baú, ele tentava ganhar a criançada dando um trocado aqui e outro ali, e só assim conseguia que eles chegassem mais perto. Era convidado para os eventos familiares porque não tinha outro jeito, afinal era irmão também, essas coisas.

Um belo dia Genivaldo passou mal em casa, foi levado para o hospital, as pessoas foram solidárias com ele, mas não teve muito o que fazer, morreu. No enterro, choradeira, gente dizendo o quanto ele era legal e quanta falta ia fazer, essas coisas que dizem quando as pessoas morrem e têm um dinheiro, seja lá quem foi a pessoa em vida.

No outro dia, quando os parentes foram contabilizar o que ele deixou de herança, pois não tinha filhos, descobriram que não havia nada, nem um mísero centavo no banco, a casa não era mais dele, vendeu-a para um senhor, amigo, dono de uma construtora, com a condição de que ele só sairia dali morto, o homem topou. Quando começou a se sentir meio esquisito e descobriu que a coisa era grave, gastou o dinheiro todo com bebida, mulheres e algumas viagens. Mais uma vez fez raiva nos parentes, talvez a última.

Não parou só por aí, logo que o dono da construtora ficou sabendo da morte do Genivaldo, pôs a casa abaixo, sujando toda a rua, causando problemas nas casas vizinhas, poeira, lama e rachaduras. Chegou até a faltar luz na rua por uma semana porque um fio do poste rompeu-se por conta da demolição e a empresa de luz não consertou imediatamente. Quando começou a construção, sua obra causou ainda mais problemas na vizinhança e hoje, no prédio de vinte andares que foi construído, os problemas continuam, não dá nem para contar o que acontece lá... Nem morto o Genivaldo deu sossego.

Celso Ciampi
Enviado por Celso Ciampi em 04/01/2024
Código do texto: T7968768
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