Relacionamentos...

Após sair pelo portão, logo percebeu o grande cão de pelagem preta brilhosa o seguindo. Detestava animais, e torcia para que aquele cusco desistisse da ideia de lhe acompanhar em sua jornada de cura. Seriam duas horas caminhando por uma estrada de chão batido até chegar na cabana à beira da lagoa. A brisa suave refrescava a manhã, e apesar do animal desaparecer por alguns instantes logo ele reaparecia causando um incomodo. Tentou de diferentes maneiras e até conseguiu afugentar a criatura, mas quando estava distraído contemplando a paisagem da natureza o cachorro surgia ao seu lado trotando com a língua para fora. Pelo menos era bonito, e proporcionava diversão ao vê-lo correndo pelo campo ao lado da estrada tentando pegar os pássaros. Pensou que o companheiro canino deveria estar com sede.

- Chegando na cabana tenho que arranjar uma bacia pra dar água pro Pretão! E também algo para ele comer! Ele até pode me fazer companhia enquanto eu pesco! Falou, com sua voz se misturando ao barulho do cascalho sob seus pés.

Seguiam felizes pela a estrada aos risos e latidos. Nada no mundo parecia que seria capaz de destruir aquela verdadeira amizade que estava se consolidando.

Empolgado abriu a cabana e foi rápido encher uma tigela com água. Tinha muitas coisas para fazer e já tinha incluído o Pretão nelas. Primeiro iria dar uma ajeitada no lugar, enquanto seu mascote descansaria na varanda. Guardaria tudo que lhe pudesse trazer lembranças e depois comeriam o que ele tivesse trazido na sua mochila. Leria um livro deitado na rede e acariciaria o cachorro deitado ao seu lado, e finalmente iriam juntos para a lagoa pescar.

Quando voltou com a água o Pretão apenas bebeu um pouco e o encarou por alguns segundos, tentou fazer uma brincadeira para ser seguido, ele queria continuar em movimento, continuar sua aventura e explorar todos os cantos daquela floresta em que agora se encontravam, corria de um lado para o outro, se embretava entre os arbustos, latia e voltava correndo. Mas depois de alguns minutos fazendo isso, se conformou que não seria mais seguido e desapareceu mato adentro.

Ao recolher a tigela do chão, sentou-se suspirando na varanda olhando para o nada:

- Relacionamentos!

Seu amigo nunca mais voltou. E apenas o vento, sussurrando entre as árvores um lamento suave, presenciou suas lágrimas.

Jovito Rosa
Enviado por Jovito Rosa em 10/01/2024
Código do texto: T7973211
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