Conto de Natal

Caía uma chuvinha fina e insistente.Pela vidraça de sua casa, Larissa olhava os transeunes que subiam ou desciam a rua carregando pacotes multicoloridos. Apesar da chuva, as ruas estavam movimentadas pois era véspera de Natal e, portando guarda-chuvas, as pessoas faziam suas compras, mesmo enfrentando cenas desagradáveis como o trafégo de carros em velocidade pelas poças, espargindo água sobre os passantes.

Apertando a ponta do nariz na vidraça, Larissa pensava no Natal. Sua mãe, que na cozinha cantarolava "Noite Feliz" enquanto executava suas tarefas domésticas, foi interrompida pela voz da menina:

- Mamãe, Papai Noel existe de verdade?

A mãe pigarreou, pensando na resposta. Consciente da existência de correntes contrárias que opinam sobre o assunto, ela optou por uma:

-Existe, sim, filha, e ama muito as crianças.

- Ele gosta mais das crianças ricas?

- Não, filha. Por que você diz isso?

Porque para as crianças ricas ele dá presentes caros e para as pobres ele, quando dá, é presente barato.

A mãe pigarreou mais forte. Sentiu-se num beco sem saída. Lembrando-se dos presentes modestos que Larissa sempre ganhava no Natal, duas lágrimas quentes, brotaram de seus olhos sofridos.

-Filha, o que faz você pensar assim?

- É que vejo na televisão crianças falando o que vão ganhar: vídeo-game, computador, carro de controle remoto, brinquedos eletrônicos, bonecas que riem, cantam, que soltam bolinhas de sabão e tanto brinquedo bonito que nunca tenho, então, acho que Papai Noel não me dá desses presentes porque sou pobre.

A mãe de Larissa considerou como a televisão cria ilusões e também mata sonhos. Não teve uma resposta para convencer a criança, por isso tentou se valer de uma promessa:

-Neste Natal, tenho certeza que você vai ganhar uma linda boneca.

- Como você sabe, mãe?

- Um passarinho me contou.

Larissa riu desconfiada, porém sua mãe tinha convicção de que ela continuou com aquele questionamento. Inteligente como sempre se mostrara, é evidente que não se satisfez com a resposta da mãe. A menina foi ao quarto, pegou sua boneca velha e descorada e monologou:

- Se o Papai Noel me der uma boneca bem bonita, vou gostar, Lili, mas não desprezo você, tá? Te quero muito. Você foi sempre minha amiga, não é, Lilizinha? - e beijava a boneca com carinho.

A noite chegou, encontrando a mãe da menina ainda angustiada. Pensava em como cumprir a promessa feita. Mais tarde seu marido regressou do trabalho e ela decidiu passar o problema a dois; a solução, provavelmente, viria.

Depois de muito pensar, resolveram comprar a prazo uma boneca de preço razoável, mas que, para eles, representaria "os olhos da cara", a fim de não matar a ilusão da criança.

Foram dormir e, quando os sons das músicas natalinas tocadas no rádio dos vizinhos chegavam aos seus ouvidos,a mãe de Larissa refletiu se realmente valia a pena alimentar nas crianças o mito de Papai Noel com o significado material que se dá a ele.

Nadir de Andrade
Enviado por Nadir de Andrade em 31/12/2007
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