A morena da Empresa

Conversa de “chão de fábrica” é sempre imprevisível...

- Você viu a morena que entrou hoje aqui?

- Parece ser a nova chefe do setor.

- Chefe ou não é gostosa pra dedéu, viu?

- É, mas não é pro nosso bico não...

As conversas giravam em torno da Mariuza , a nova chefe que acabara de assumir o setor de transportes da empresa e que chamava a atenção por onde passava.

Morena, alta, 1,78m, corpo esguio, cabelos longos e cacheados e olho esverdeados que era difícil ficar muito tempo olhando direto para eles. Voz rouca e pausada, era o que se poderia considerar uma cavalona de manual para qualquer revista masculina.

Ao ser apresentada no setor pelo Orlando, o subgerente, ele já fez questão de deixar claro das nossas limitações em relação ao assédio àquela beldade; ela por sua vez, fez um discurso curto e grosso para todos nós:

- Quero conhecer cada um pessoalmente antes de quaisquer situações que venham a acontecer.

- As entrevistas começam a partir de agora do mais velho ao mais novo. Obrigado por sua atenção!

Um frio na barriga passou por cada um de nós e não ficou um sem entender o porquê daquilo. Cada um que saia ia direto para o refeitório com um fichário e não falava nada para o outro. Quem ficava não entendia nada, mas, pelo contrário, queria saber o que viria pela frente.

Mariuza exalava um perfume suave e uma tranquilidade brochante para os enxeridos de plantão. A sua primeira pergunta era sempre a mesma: - Tudo bem com o senhor? Quem se atreveria a avançar o sinal?

Por ser o mais novo na empresa, fui o último quase no final do expediente. Ela ainda estava naquela pose de modelo e chefe e o questionário básico na ponta da língua quando do nada perguntei se o relacionamento extra empresa lhe importunava.

Surpresa ... ela não esperava isso e de pronto retrucou o motivo da pergunta. Disse que alguns colegas tinham relacionamento fora e por ter me separado recentemente de um relacionamento estava com receio de outro nas mesmas proporções.

Na mosca: tive uma aliada e confessionária que se abriu da sua intimidade e confessou também vir de um relacionamento conturbado, motivo de estar em outra empresa fora aquela que trabalhara por anos e se envolvera com um colega que a expôs nas redes sociais após o término, ficando ela numa situação desagradável com os outros colegas.

Nosso dia a dia era de chefe para subordinado até um dia em que chovendo muito, perguntei se ela gostaria de uma carona até seu carro.

– Só se for o seu, porque o meu está na oficina até o fim do mês e se chegar a peça que falta.

Pronto, achei que o bote seria fatal e fiquei todo entusiasmado com a possibilidade de... (vocês sabem de que, né?)

Ledo engano, logo ao entrar no carro a primeira pergunta dela foi se o que me importava era um corpo bonito que logo iria embora, ou uma mente aberta e companheira que iria pela vida toda.

Banho de água fria, ou melhor, gelada. Fiquei meio desconcentrado, mas consegui me concentrar na linha de raciocínio dela. Vi que o que esperava não era mais um assediador e sim um amigo confidente ou algo parecido. Confesso que não tinha a menor aptidão para isso, mas, por ora, era melhor ter aquele avião como amiga do que como mais um “possível troféu dos sonhos masculinos de sempre” .

Mariuza discorreu sobre sua vida sofrida e de como engravidou de um patrão de seu pai aos quinze anos após um assédio não correspondido no fim de expediente, o qual resultou num estrupo. Seu pai ao saber foi tomar satisfação com o patrão e o segurança numa atitude brutal o empurrou fazendo com que batesse a cabeça no meio fio vindo a ter uma concussão e posteriormente a óbito.

O baque foi grande, pois já havia perdido a mãe no parto junto com o irmão natimorto, e o pior veio depois ao saber da gravidez e comunicar ao “pai” que imediatamente a despediu da empresa ameaçando-a de morte caso voltasse. A criança nasceu com deficiência, tinha paralisia cerebral e, ao comunicar ao pai, isso foi mais um motivo para ele querer afastá-la de perto.

Sozinha e com aquela vida precisando de apoio total, teve que se virar para trabalhar, pagar alguém para tomar conta do seu bebê e ainda se sustentar. Conseguiu terminar os estudos e fazer uma faculdade à distância que a levou para a empresa anterior por muitos anos até o infortúnio de se apaixonar pelo cafajeste do colega de trabalho que era um de seus chefes, mas não o chefe imediato. O canalha gravava as relações dos dois escondido dela e após um desentendimento entre ambos a expôs nas redes sociais causando uma situação vexatória pra ela.

Era muito sofrimento para uma pessoa só e acabei por me apegar a ela como um irmão mais velho, pois o morava em outro estado. Toda aquela visão que tivera pensando com a outra cabeça se esvaiu num piscar de olhos e tive que parar o carro num restaurante para comprar algo para jantar enquanto a conversa fluía solta. A macharada deve ter ficado em polvorosa ao vê-la como eu fiquei na primeira vez. Deixei-a em casa e fui pra minha já com a cabeça quente por causa da dor que aquela jovem passou e os constrangimentos de um aproveitador de ocasião

Quando soube o nome do crápula, qual não foi minha surpresa ao saber que era o mesmo safado que envolvera uma vizinha, quase irmã, num b.o. num motel (ele vazou de lá e não pagou a conta deixando-a numa fria). O cara era uma mala sem alça mesmo; só que desta vez ele passou dos limites com a pessoa errada. Ele soube onde ela trabalhava e um belo dia foi até lá com cara de santinho do pau oco, dizendo-se arrependido. Mariuza quis enforca-lo, mas, sabedor dos fatos, dei um jeito de afastar os dois. Disse pra ele que a empresa não era lugar de resolver problemas particulares e namorados, noivos ou maridos eram tratados com cortesia, mas do mesmo modo. Ele, aparentemente, aceitou o ‘convite” para se afastar e ficou rondando por lá uns dias.

Por já conhecer a pequena Melissa e ver o Amor de mãe que Mariuza tinha por ela, consolidei ainda mais aquela posição de mano mais velho sem ser parido de pai e mãe. Ela era uma pessoa de excelente índole para ter um revés tão grande e era forte , pois, outra pessoa já teria feito besteira. Ganhou minha admiração de graça.

O babaca aprontou mais uma só que dessa vez se deu mal. Explico: Ele tentou assediar uma estagiária do escritório e tornou a vida da menina um tormento. Um dia, forçou a barra, fez o que quis com ela e achava que iria ficar por isso mesmo. A menina , ao denunciar o assédio na delegacia, fez com que ele fosse chamado e os repórteres de plantão colocaram o rosto e nome dele na tv. Alguns conhecidos da área , ao verem a situação, tomaram as dores da menina e, quando o cara saiu da delegacia, fizeram um corredor polonês nele, bateram tanto que ele foi parar no hospital, ficou uns dias em coma e se foi.

Mariuza comentou que ele teve o que sempre plantou e colheu da pior forma as atrocidades que fez. Ela disse que não era isso que esperava para ele mas não era Deus pra julgar ninguém. Que caráter é esse?

Num fim de semana, fomos convidados para uma festa de aniversário na casa do chefe e lá ela conheceu o Mário, um antigo colega de escola que estava se mudando para a cidade. A amizade tornou-se um relacionamento e no mês passado fui um dos padrinhos do casamento deles...

KriokemPvh
Enviado por KriokemPvh em 26/01/2024
Código do texto: T7985457
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