Nas vésperas do Natal
Tammmmmm rammmmm rammmm tamram tamrammm trammmram...
“Eu sempre acreditei que um dia
você pudesse me deixar...”
“ Eu te amo... Eu te amo .... Eu te amo... ô! ô! ô!
“Tanto tempo longe de você.
Quero ao menos lhe falar.
A saudade não vai impedir.
Meu amor de lhe falar.
Cartas já não adiantam mais.
Quero ouvir a sua voz...”
Para ser completo o meu “cronto” teria que mostrar em palavras sonoras a rouquidão do auto falante na praça. O som ainda não era bom, naquela época.
A roda gigante girava embalando os namoros novos nos ares frescos daquelas noites. Cúmplice o manobrista dava breves paradas. A cadeira da roda gigante lá no alto balançava enquanto o menino abraçava a menina, abraço disfarçado em proteção, o tempo apenas para roubar um beijo.
Ora, ora! Não fiquem assanhados não foi lá o meu primeiro beijo. Eu só observava me indagando quando seria o meu primeiro beijo?
A gambiarra de bicos de luz estendidos em redor da praça. Bandeirolas. O carrossel. (Quantas vezes você passou por mim?) Brincamos juntos, acho. O balanço. O patinho d´água. O tiro ao alvo. Maçã do amor, felôs, castanha confeitada, bolos, guaraná Fratelli, algodão, pirulito. A mulher virava lobisomem! Argolas.
Depois da missa. Hora do desfile. Em meio das barracas a passarela. Meninos sempre passeando na contra mão das meninas. Olhares. Sorrisos. Galanteios. Passeando no mesmo sentido, pronto a paquera foi permitida, adiantava-se o passo, um sorvete, namorados.
- Essa música vai de um alguém para outro alguém! Um coração apaixonado para a moça de laço de fita azul no cabelo, que vai passando, ele de você muito gostou! (nada mais bocumocu)
Eu te amo... eu te amo...
Aumentava o som.
- Se a resposta for sim, estar lhe esperando no carrossel. Camisa listrada de azul e branco, calça branca.
A flecha do cupido lançada sob os olhares paternos. Um gesto de aprovação. Carrossel.
Meia noite em casa. Ceia. Dormíamos tarde apenas nessas noites.
- Como a festa, foi boa?
- Andei no carrossel e comi pipoca.
- Eh! Eh! Ficou vermelho. Namorada! Namorada!
- Pare, viu! Fico intrigado de você.
- Será que pai Noel vem?
- Meu sapatinho está esperando.
A vida, uma roda gigante, um carrossel, passa sempre por agente. Alegre! Passeando! Cheio de ilusões. E continua passando.
Crontei!
Depois eu cronto mais.
Feliz natal! e Próspero Ano Novo.
Manuel Oliveira