O mendigo e a estudante

O mendigo e a estudante.

Gisele o encontrava ao sair do trabalho. No ponto do ônibus. Sujo, barbudo, suado, cabelo desgrenhado, roupa rasgada com sua fala mansa e voz melodiosa, implorava esmolas, enquanto estendia a mão com sua lata velha de marmelada.

Com os pés apertados nos sapatos de salto alto, cansada, separava o dinheiro da passagem e sempre jogava algumas moedas na lata do mendigo. Recebia um sorriso de agradecimento do moço. Torcia para encontrar lugar no coletivo, fato bastante raro. Geralmente viajava de pé entre empurrões e solavancos durante uma hora até chegar à universidade onde fazia um curso noturno. Seus pés sofriam tremenda tortura. Um, dois, três, quatro, cinco anos se passaram, os dias eram quase sempre iguais.

Terminou o curso noturno e foi promovida no banco onde trabalhava. Transferida para Japeri era gerente de contas especiais. Certa manhã uma das caixas solicitou-lhe especial atenção para um cliente. Ao estender-lhe a mão involuntariamente, fez um pequeno gesto de recuo, mas acabo apertando-lhe a mão. Suas pernas estavam meio trêmulas, sentiu uma zonzeira na cabeça. Notou o sorriso irônico do cliente, disfarçado no canto dos lábios.

Ele sentou-se na cadeira que lhe foi apontada e explicou que desejava conhecer todos os tipos de aplicação financeira e qual a mais rentável. Ela explicou-lhe em detalhes os produtos que a instituição oferecia, e após algum tempo, sentindo-se meio desconfortada, resolveu findar a entrevista e empurrou: Para o seu caso, acredito ser melhor uma caderneta de poupança, pois possui um rendimento estável e não lhe dará maiores preocupações. O cliente sorriu e respondeu: - Senhorita, acredito que a senhora não entendeu, sei que já tomei o seu tempo, mas não desejo aplicar numa poupança, prefiro o fundo de ações, aquele que tem rendimento acima do normal. Assumirei os riscos, se perder, tudo bem. Por favor, aplique quinze milhões, peça os detalhes de minha conta à caixa que me apresentou. Foi um prazer. Ergueu-se e saiu de cabeça erguida. Antes se voltou deu-lhe um sorriso e disse-lhe: - Na próxima a convidarei para um café. O movimento da agência era pequeno, mesmo assim ninguém ficou filmando com olhos arregalados o homem que acabava de sair.

Gisele mais tarde ao solicitar os dados para a caixa, perguntou se conhecia aquele cliente e esta respondeu afirmativamente com a cabeça sem maiores comentários.

Ela ficou surpresa, ao voltar do almoço, encontrou-o sentado em uma das cadeiras que estava em frente a sua mesa, sorrindo ele agradecia: - Muito obrigada, tenho acompanhado os resultados do investimento, e estou muito feliz. Sei que está voltando do seu almoço, outro dia a encontro para aquele café. Gisele continuou curiosa.

Precisou fazer um treinamento interno no centro da cidade que ia durar três dias. Lembrou-se da faculdade, a rotina de tantos anos e do estranho mendigo. Curiosa, volto ao ponto de ônibus, ficou um pouco afastada. De repente, ela o viu de novo, esfregou os olhos tentando acreditar no que via era ele mesmo, sujo, barbudo, imundo, com sua lata velha de marmelada, implorando uma esmola, para aqueles que se apiedassem dele. Enquanto isso, sua fortuna aumentava diariamente, inclusive em alguns paraísos fiscais fora do país.