Vida no centro velho

Alegria que aquele ali sente,

Tu garoto, olha, respira, sente, presta atenção em cada passo dele, ele samba ali no meio da rua, seus passos são cada vez mais descompassados, o ritmo vira arritmia por conta da cirrose.

Em seu café da manhã 51% era álcool, o resto, água, das mais ardentes, mas água e se água significa vida quem somos nós para julgar?

No almoço um picadinho, onde cada pedaço era mordido primeiro pelo cão do seu lado, o outro pedaço ele comia temperado com a baba do fiel companheiro.

Na noite, bom, na noite ele já estava alimentado, portanto seu sistema só reconhecia água, só que desta vez era água de cheiro que perfumava suas musas e alimentava seu peito, que feliz, motivava seu corpo a sambar e cantar um samba puro desses que eternizam nomes como Adoniram, Roque Ferreira e Bezerra...

A dona da água de cheiro daquela noite era uma senhorita vestida com um curto e molhado de chuva, vestido branco, que marcava um corpo baiano e quente como deve ser...

Há pouco a senhorita andava rápido na rua a fugir de um bêbado que a chamava, mas quando subiu em sua sacada parou para assistir aquele bêbado que movido pela arritmia do coração sambava descompassado e cantava para ela...

O que ele cantava naquela sua situação, ela não podia entender muito bem, a afinação passava longe do centro velho, mas o refrão ela conhecia em sem que ele percebesse ela cantava:

- Eu sou um coco que seu ralador não rala...

Ela, a dona de branco saiu e voltou à janela com um balde de água fria e após o banho o bêbado nos olhando ainda sorridente:

- Viu? Ela me ama, já já ela desce pra sambar comigo, ela me deu banho, agora vai tomar o dela, vai ficar cheirosa pra depois na dor do adeus eu sentir o cheiro dela...