Amor cotidiano

13h00minh. Hora do almoço. Ela entrou, passando a mão nos cabelos, fechou a porta e com os olhos verdes caçou uma mesa. Quatro lugares. Ela e sua bolsa e sua pasta. Ele a viu. Aguardava ela e já estava sentado almoçando. A sua companhia da mesa falava. Ele almoçava. Ela pegou o prato: verde, laranja, roxo, branco e frango. Pesou. -Guaraná, por favor. Sem gelo.

Ela o viu. Ficou gelada, vermelha, a mão molhada. Seus olhares se batem e no mesmo instante se desviam. Assim como algo proibido. Ele disfarça, finge que não a olha, que a presença dela não meche com ele e que aqueles dois olhos verdes não o encantam. Mentiu para si, mas não se enganou. Era esperto. Sabe que quando sozinho sua mente se volta para ela.

Ela senta quase que de frente para ele. Sem (talvez) intenção. E de frente também para sua bolsa. A bolsa não fala. Ela abre o guaraná, ele observa. Responde alguma coisa à companhia, ela observa. Ele ri, os olhos verdes brilham (mais). Ela almoça. Ele é canhoto, come muita coisa verde e toma água. Sem gás. Ele e a companhia levantam. Devem voltar ao dia lá fora. Ela observa: mochila, bolsa, pasta e papel com o peso do prato. Última troca de olhares. Timidez. Dúvida. Pensamentos. Ele na fila, procura carteira e ela termina o almoço. Último gole do guaraná e ele sai do restaurante. Ele café, ela fila. Ele para esquerda, ela para direita. Até amanhã.