O decote da Val

O nome dela é Val. Esconde o nome como esconde o decote que ela está usando.

Festa de aniversário. Val está maravilhosa no vestido vermelho que parece voar. Mas ninguém vê isso. Eles querem o que ela esconde atrás daquele decote. E ela pode. Suas tetas são dois melões formosos, que balançam pralá-pracá quando ela dança. "Aí não tem silicone", murmura o Ricardo. "Baita vadia" muxoxa a Aline. "Que espanhola daria pra fazer aí, hein!" explode excitado o Tiago.

A pista é dela. Não tem pra ninguém. Ela faz 25 anos e se sente uma guria de 15. Doses de whisky com gelo vão matando a sede e fazendo-a rodar e rodar como pomba-gira. E ela esconde aquele decote...as mãos abraçadas no peito tentam desrevelar o que todo mundo já viu: "Tira a mão, Val..." "Tira a mão, Val..."

O Alex tá lá no canto, sentado no bar. Toma a sua cervejinha quieto, enquanto todos estão estupefatos com a performance da Val. "Pô, Alex, tu não tá vendo?", exclama o Ricardo. "Rapá, ela tá olhando direto pra ti" cutuca o Tiago. "Cala a boca, meu!" diz o Alex, indignado.

E ela olha pra ele. Dá um sorriso fatal e abre os braços só pra ele. Só ele pode ver o seu decote, mais ninguém. E ela dança. Dança como a fêmea que quer chamar a atenção do seu macho, pra depois copularem imersos num só prazer.

E o Alex, hein...Ele está enfeitiçado,mas não vai ceder. Está incomodado. "Eu vou embora, guris..." "Mas como Alex, tá louco?" "A mulher tá toda se querendo..." "Vou pra casa. Tô com sono...Tchau" E ele sai.

E ela dança. Lança o olhar lá pro barzinho e cadê o Alex? Cadê o Alex? Val roda, roda, roda o olhar e ele não está em lugar algum. "Talvez tenha ido ao banheiro..." "Talvez foi fumar um cigarro lá fora..." Passa 10,20,30 minutos... Onde, onde, onde???

Val senta. "Me vê uma dose de whisky...QUENTE!" E bebe tudo num gole só. "Me vê outra, sem gelo" E bebe. Epensa nele transando com a mais baranga do universo, nele beijando outro homem, nele, nele, nele... E fecha os olhos. E pensa nele dizendo: "Eu te amo. Casa comigo?" E desaba de choro. Chora como criança que não ganhou o leite de hoje, como fêmea que não atraiu seu macho. E chora. Chora porque esconde até o nome. Até o decote. E sai corrrendo...E o mundo nem mais liga pra dança e pro decote da Valditéria...

Ana Paula Cecato
Enviado por Ana Paula Cecato em 12/12/2005
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