Partir, já é hora.

E lá estava ela. Sentada, com os pés na água e esperando o sol se despedir. Sim, ela não daria adeus, pois não tinha força para isso. Com a alma molhada mal conseguia olhar para aquela cena e, então, guardá-la na memória doía. Uma dor que lhe tomava o corpo e os sentidos. Nunca mais aquele cheiro, aquela água nos pés, nunca mais aquele sol. E a sua vida já lhe dissera que o sol é diferente em determinados lugares. O cabelo loiro e grande amarrado no alto da cabeça agora lhe incomodava. Desfez. Cabelo sobre o ombro. Solto. Uma ligeira sensação de liberdade. Em vão. O sol se foi e a escuridão veio cobrir. O céu. O olhar. A alma. Já era hora de partir. Último suspiro, olhos fechados para guardar o cheiro daquele lugar no peito. Já era hora de partir. Pés fora da água. Lágrima. Pensamento fora do corpo. Dor. Medo. Última olhada – intenção de memorizar. Dor. Medo. Sentimento contido e engolido. Partir, já é hora.