2mg ao dia

É aquela voz suave e compreensiva novamente dizendo:

-Seu estado está se deteriorando, sua situação é crítica.

Eu sempre a retomo novamente.

Na prateleira há algo chamado Diazepan, seja lá o que for. Há fluoxetina, seja lá o que for. Há Celebrin, seja lá o que for. Há Cybalta...

O que sobrou é decedidamente a segunda linha. Conhecida popularmente como politicamente incorreta.

A voz em minha cabeça não pára. Ela diz:

-Após recapitular sua vida, descobri que você não precisa de sentimentos.

Chamo ela de "beijo de boa noite".

Ela continua:

-Aquilo que você não suporta é o que deseja.

É a velha história do preciso amar para odiar.

Eu rebobino a voz.

Alguém diz:

-Abra!

Eu abro até o limite dá segurança.

Pergunto:

-O que tem ai?

Resposta:

-O que isso parece?

Cotinua:

-Preciso entrar, isso está ficando pesado.

Na terça feira ela enrosca seus braços finos na grade pintada. Depois, estende seu braço fino em minha direção e engole a seco. Seus lábios estão cobertos de saliva e as mandíbulas fazem força para articular algo.

-Eu não sou uma puta - ela diz sacudindo as mãos.

Essa é uma famosa declaração feminista.

Minha doce "beijo de boa noite" está segurando um ramo de flores com votos de felicidade. Ela sabe me fazer feliz.

Do outro lado do mundo não há flores, mas há votos de melhora.

Votos de melhora não vão resolver tudo isso aqui.

Minha princesa diz:

- Você não consegue fazer as pessoas te amarem direito. Tenho medo que não sobre mais ninguém após eu partir.

Essa porra de gente. Essas merdas humanas.

Amor é besteira. Emoção é besteira. Eu sou uma rocha. Um babaca. Sou um babaca e tenho orgulho disso.

É sempre preciso escolher entre ser amado ou ser vunerável.

Mulheres dizem:

-Amar é mentira ou uma jura?

Mas é tudo um truque, é tudo uma babaquice feminina. Elas simplesmente choram, porra.

Eu inspiro e expiro.

Oh minha querida "beijo de boa noite". Ninguém entende o que é imaginar um peso sobre o corpo, fazendo com que ele se afunde e, em um piscar de olhos, durma num doce e belo sonho.

Na saída da aula dela, eu pergunto:

-Que ir tomar um café?

Na verdade, eu nem estou n oclima.

-Só para conversar? - Diz ela.

Eu digo que tudo bem.

Caminhando ao lado dela, ela diz:

-Obrigado pelo que fez agora pouco. Por mentir, sabe?

Eu digo:

-Quem disse que eu estava mentindo?

Quer dizer que ela me ama?

Ela diz:

-Está bem. Eu gosto de você um pouquinho.

Inspire e expire.

Eu digo que não sei como falar com ela sobre isso.

Eu me sinto como se tivesse obtido um resultado de câncer maligno.

Pergunto como isso afeta a nós.

Ela diz:

-Devemos parar de nos encontrar.

Eu quero saber se vou morrer logo.

É estranho que a gente nunca pense nas mulheres que comeu, é sempre aquelas que escapam. Chamam isso de amor.

Às vezes eu acho que as pessoas deveriam ser espancadas e punidas, só para respeitarem algo.

Na verdade meu jeito é o jeito que todos lidam com a hostilidade da vida.

Evitando confronto.

Fugindo.

É por isso que vejo televisão. Fumo porcarias. Faço auto-medicação. Redireciono meus pensamentos. Prático masturbação.

Nego a realidade.

Plínio Platus
Enviado por Plínio Platus em 28/02/2008
Código do texto: T880166