O ladrão da madrugada

Como já relatei no conto do Homem Moderno, no bar que minha família possui, acontecem muitas histórias interessantes, a que vou relatar agora é mais uma dessas histórias veridicas.

Certa manhã, meu marido, como de costume, atendia o bar, já com um bom número de fregueses, todos degustando seus aperitivos e conversando animadamente, quando chegou um rapaz jovem e casado a pouco tempo, que poucas vezes tinha vindo ali.

O rapaz chegou, sentou-se perto do balcão, em um cantinho um tanto reservado, pediu uma cerveja e com semblante carregado tomava goles da cerveja e sacudia levemente a cabeça, como se não estivesse acreditando em alguma coisa.

Meu esposo, quando acalmou o movimento, foi conversar com o moço, pois havia notado seu ar de preocupação.

Ele então começou a contar que, trabalhava de noite em um armazém de sementes de uma cooperativa da cidade, como operador de máquinas, saia de casa as 18 horas e só retornava no outro dia as 7 horas da manhã.

Ocorre que na noite passada, havia estragado uma máquina da firma e como não era possível fazer o reparo sem a presença de um técnico, que só poderia ser encontrado em outra cidade, o chefe do setor, achou por bem mandá-lo para casa mais cedo, as 2 horas da madrugada.

Ele ficou feliz da vida, pois poderia aproveitar a madrugada fria nos braços da jovem esposa.

Então ele falou que agora ele acreditava em toda essa conversa de roubos e violência que falam por ai, pois até a casa dele, casa de um simples operário, havia sido alvo de tentativa de roubo.

Nesta altura da conversa, os demais fregueses já estavam prestando atenção, com a habitual curiosidade do povo, ansiavam por maiores detalhes.

Ele prosseguiu relatando que ao chegar em frente a sua casa, por volta das 2horas e trinta minutos de uma madrugada fria e com neblina, lembrou que não havia levado junto a chave da porta, então começou a bater na porta para que a esposa acordasse e abrisse para ele poder entrar. Bateu, bateu, bateu e nada, ela não acordava. Resolveu ir até os fundos para bater na janela do quarto, quando ouviu um barulho no outro lado da casa. Correu até lá e chegou a tempo de ver um "ladrão", pulando a janela da sala de dentro para fora, correu um bom trecho atrás do ladrão, mas observando melhor, viu que o ladrão não tinha roubado nada, pois estava com as mãos vazias.

Voltou ofegante e preocupado com sua jovem esposa. Quando chegou na casa ela já estava com a porta aberta e toda trêmula falava para ele que tinha ouvido barulhos e correria e estava muito assustada.

Ele disse que havia um ladrão dentro da casa, como é que ela não percebeu nada? Olha o perigo que havia passado, enquanto dormia inocente e despreocupada.

Ela se aconchegou a ele e com voz chorosa falou:

- Meu bem , só pode que ele queria roubar a televisão novinha que você comprou a semana passada, graças a Deus, que você chegou a tempo.

O rapaz terminou o relato com os olhos molhados por causa do perigo que esposa havia passado. E com muita indignação falou que essas coisas não podiam continuar acontecendo.

Um dos fregueses que estavam ouvindo, não se conteve e perguntou ironicamente:

-Tu tens certeza que o ladrão não PEGOU NADA MESMO?

O rapaz ficou com um ponto de interrogação no olhar, pagou a cerveja e foi embora pensativo.

Anamar Quintana
Enviado por Anamar Quintana em 02/03/2008
Reeditado em 21/06/2009
Código do texto: T884425
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