UM OLHAR, DOIS OLHARES...

Caro leitor:

vou narrar uma história que não mais deixará a sua memória...

Eu me encontrava na escola, divertindo-me, rindo... junto aos meus amigos. A vida para nós não importava, ficávamos conversando sentados nas escadarias. As horas passavam, e todos para uma conversa chegavam.

Era, assim, todo dia. Todo dia essa felicidade durante nossos intervalos de aulas ou durante a nossa permanência voluntária no pátio da escola.

Então, um dia, pelas escadarias em que eu meu divertia, você subia... Seus passos pareciam me controlar. De repente, dois olhares. Seus olhos verdes brilharam e me mostraram que eu estava preste a me apaixonar... eu iria começar a amar.

Você continuou subindo e um calor foi me consumindo. Ao lado, uma de minhas amigas percebeu o que acontecera, perguntando-me qual era a razão daquele flerte. Disse-lhe, então, que tinha visto um anjo a subir as escadas... rumo a uma sala de aula. Minha amiga propôs que o seguíssemos. Repentinamente, ambas ali estávamos, em frente ao anjo; por um milagre, ele se encontrava sentado numa das carteiras da minha sala de aula!! Mostrei-o, apontando, então, à minha amiga. Ele se levantou e se aproximou da janela. Ficou ali, olhando lá pra fora, e foi, sem demora, que invadi a sala de aula e do anjo me aproximei, perguntando-lhe:

_Você é novo por aqui?

Você, espantado, prontamente respondeu:

_Sim...

Insisti, fazendo-lhe outra pergunta:

_É desta classe?!

Você respondeu:

_Sim.

Meu coração disparou e, feliz, disse:

_ Eu também!

Olhei nos seus olhos e segurei forte na mão da minha amiga. Criei, então, coragem, e perguntei:

_ Como você se chama?

Você olhou para mim e disse:

_ Amor. E o seu?

Sorri, e disse:

_ Paixão. Prazer...

Surpreendentemente você toma a minha mão e se aproxima, com seu lindo olhar, pronto para me beijar. Seus lábios tocaram meu rosto, mas seu toque logo se foi, e para não aparentar um sinal deseducado, apresentei-lhe à minha amiga. Em seguida, começamos a dialogar, e você sempre com seu olhar... então minha amiga se tocou. Foi logo desculpando-se e dizendo que me procuraria numa outra hora.

Permanecemos ali, eu e você, sozinhos, conversando... bem próximos. Então, desconversando, você me perguntou por que, afinal, eu o havia olhado de forma tão visível mal ele havia chegado na escola. “Queimada” de vergonha, eu disse:

_ Você percebeu, não é?!

Você respondeu:

_ Claro, seu olhar me chamou a atenção.

Em seguida, respondi:

Engraçado, pra mim foi o seu olhar... a maneira que você me olhou foi diferente.

E você disse:

_ Sabe, temos muitas coisas pela frente e acho que seremos amigos, muito íntimos... Achei você o máximo!

Conversamos, então, durante horas, e não queríamos ir embora, mas tivemos que nos despedir.

No caminho para casa, falei de você para a minha amiga e, de pronto, ela já disse que eu me apaixonara.

Chegando em casa, fui direto pro meu quarto. Deitei e pensei... e pensando em você, adormeci. Sonhei com você e, em sonhos, eu me divertia. Sonhei que eu lhe amava, até madrugada afora. Sonhei com a felicidade, com você até a eternidade. Sonhei que lhe beijava e lhe acariciava...

No dia seguinte, acordei, já querendo lhe ver, meu bem. Ansiava pela hora de chegar à escola.

Sai de casa e segui rumo à escola. Lá chegando, já lhe avistara. Acelerei meus passos, indo ao seu encontro. Era o segundo dia da minha felicidade... parecia que eu já lhe conhecia há tempos.

Passaram-se os dias, passaram-se os meses, e nos encontrávamos, todo dia. Um (e)terno sentimento nascia e, em nossas faces, ele resplandecia.

Então, num certo dia, você disse que precisava falar comigo... Ficamos, então, a sós, e você me disse coisas lindas! Meu coração pulsava concomitante à maneira que você falava.

Você confessou que me amava. Olhei para você e disse:

_ Eu lhe desejava e lhe amava, em segredo, desde a primeira vez... Você demorou... mas, finalmente você me disse...

Aceitei, então, o convite do seu olhar, e começamos a nos beijar. Foi lindo!! Nós nos amávamos, de verdade! Sonhávamos um com o outro...

Entretanto, certo dia, você se ausentou da escola. Fiquei preocupada. Entrei na sala de aula e cochichei para uma amiga, ao lado, que, talvez, você chegaria atrasado. Encerrou-se a primeira aula, e nada da sua presença. Comentei, então, mais uma vez, com outra amiga, sobre a sua inesperada ausência.

Repentinamente, a diretora da escola surgiu na porta da sala de aula. Ela disse que estávamos dispensados das aulas daquele dia, porque um nosso colega de classe havia falecido. A diretora pronunciou o seu nome...

Então, um desespero se apossou de mim; saí correndo da sala de aula, gritei pela minha amiga e transmiti a ela a trágica notícia. Começamos ambas a chorar. Eu não conseguia acreditar, não podia ser verdade...

Toda aquela amizade-amorosa, apaixonada, estava encerrada. Gritei e me desesperei. Com você não, não devia ser verdade!! Tínhamos muito a viver... juntos!

Abracei a minha amiga, enquanto a notícia se espalhava por toda a escola... queria continuar a lhe amar, e não lhe velar. Tudo isso, por causa de um maldito automóvel. Minha vida mudou depois que a terra lhe recolheu. Adoeci, não queria ver ninguém, você estava presente... me vi enlouquecendo.

Minha vida passou a se distanciar de mim mesma, e eu não desejava mais nenhum amante. Não queria mais ir à escola. Tornei-me prisioneira da sua imagem, das nossas lembranças...

Sofro desde o dia que você se foi e, agora, narrando esta nossa história que começou com uma troca de olhares, sinto-me menos dolorida; esta história que começou com um olhar e se encerrou com o seu nome escrito no JAZ.

ELAINE BORGHI

verão de 2005