Fogo da Paixão

Fogo da Paixão

Juvenal nunca foi um cara muito bonito; na verdade, de bonito só tinha os olhos azuis e nada mais. Por fora. Mas tinha uma alma excelente, além de ser muito sensível e compreender muito bem as mulheres. Melhor do que qualquer outro homem. Tinha, de fato, uma alma feminina.

Sua empatia com as mulheres começou quando ainda tinha 13 anos e conheceu Rita. Rita tinha olhos verdes, bochechas rosadas e seus lindos cabelos louros se enrolavam em dourados e bem feitos cachos.

Quando viu aquela menina entrar à sala de aula ele apaixonou na mesma hora. Porém ele não chamou atenção da moça. Ela nem percebera aquele menino comum sentado na primeira fila. Ela sentou-se na última.

No dia seguinte ele resolveu deixar de lado a rotina e sentou-se ao lado dela. Apresentaram-se.

A rotina então mudou: agora ele sentava-se no fundo, ao lado de Rita. Na hora do intervalo também estavam sempre juntos. E assim foram tendo a companhia um do outro sempre, até nos finais de semana.

O namoro começou dois meses após a entrada de Rita na escola. E foi intenso.

Rita e Juvenal eram como carne e unha. Estavam juntos o tempo todo e ele sempre a entendia maravilhosamente bem. Ele tornou-se homem com ela e ela tornou-se mulher com ele.

Era clara a paixão dos dois, mas a de Juvenal era ainda mais clara. Todos notavam que ele gostava mais dela do que ela dele.

Até que um dia ela resolveu que não gostava mais dele e pôs fim ao romance. Juvenal ficou arrasado. E assim ficou durante dois anos.

Nesse tempo ele tentou de tudo: outras garotas, algumas simpatias, viajar... Mas nada adiantava. Nada fazia ele esquecer Rita.

Mas um dia, mexendo nas suas coisas, encontrou a foto mais bonita dela. Encarou a foto e percebeu que ainda podia sentir o cheiro dela e o calor de seus braços.

Olhou seus olhos de esmeralda com um olhar de despedida e acendeu o isqueiro. Viu o rosto de Rita virar cinza aos poucos. Sofreu muito neste dia, mas depois disso nunca mais pensou nela.

A partir de então ele passou a fazer isso toda vez que começasse um namoro, assim não se apaixonava muito pelas mulheres e logo as esquecia e nem nunca mais as via. Quem não ama não sofre, pensava ele.

Mas aí Juvenal, após se formar em agronomia, conheceu Juliana e se apaixonou totalmente. Desta vez resolveu curtir a paixão.

Se gostavam muito e por se gostarem demais brigavam sem parar. Todas as vezes que brigavam Juvenal ficava deprimido e sofria bastante.

O que ele sentia por Rita era quase nada em comparação ao que sentia por Juliana. Parecia que ela e ele eram um espírito só e ele não conseguiria nunca mais viver sem ela. Estava tão apavorado com a profundidade dos seus sentimentos que, em um momento de depressão após uma briga, resolveu queimar o retrato mais bonito de Juliana.

Fez isso com muitas lágrimas nos olhos. Tremia e chorava muito. Após gastar muita energia chorando caiu no sono pesado. Dormiu sonhando com Juliana e acordou pensando nela. Seu ritual desta vez não funcionara, tanto era o amor que tinha por ela.

De repente, ao levantar-se da cama, sentiu algo estranho subindo seu corpo a partir do seu abdômen. Olhou para a barriga e viu manchas de queimadura aparecerem na sua pele. Seu corpo queimava fortemente e ele apenas sentia o calor subir. Começou a gritar a chorar muito de dor. O calor subiu seu corpo; do abdômen à região encefálica, desnaturou suas proteínas, queimou suas células e, enquanto Juliana limpava o cinzeiro, Juvenal morria ali mesmo queimado pelo fogo da sua paixão. Sua própria paixão.

Malluco Beleza
Enviado por Malluco Beleza em 17/03/2008
Código do texto: T905340
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