Adeus Coca Cola

Cheguei a conclusão que a única coisa que poderia me salvar era um regime. Bem que eu achava que as minhas calças estavam apertadas e não estavam fechando direito na barriga. A primavera chegou. Sol, céu azul, os pássaros já amanheciam cantando na minha janela e eu descobri que havia comido demais o inverno inteiro. E nem me dei conta que estava virada em peito, bunda e barriga,

Oh, céus! Se alguém me chamar de gorda, já era. A lembrança dos meus foundes me deixou com água na boca e com uma capa de gordura no abdômen. Lembrei do verão que se avizinhava e da minissaia que poderia ser aposentada dentro do meu armário se eu não tomasse uma providência urgente. Adeus Coca-Cola, chocolate, batata frita. A minha vida agora seria regada a sucos light, saladas verdes e insossas, frutas e carne branca. O pudim de leite condensado que me aguardava dentro da geladeira tornou-se persona non grata. Eu deveria chegar em casa e coloca-lo direto no lixo. Mas isto configurava para mim um sacrilégio. Pobre do meu pudim. Coitadinha de mim.

Congelei todos os carboidratos que eu tinha em casa. Ficariam no congelador até eu aprender a comer direito. Os brócolis, a couve-flor, a alface e os tomates riam da minha cara em cima da mesa. Cruzes, aquilo seria meu jantar, regado a um suco sem gosto, que diziam ser de laranja. Minha mãe chegou no justo momento em que o pudim estava indo pro lixo. Penalizada, ela decidiu que o comeria e assim o fez, sem culpa nenhuma. Dei adeus pra ele, mas não tive coragem de raspar a sobrinha no fundo do pirex.

Enquanto todos lá em casa comiam tudo aquilo que engorda e aumenta o colesterol, alimentei-me com uma salada verde e nutritiva. Argh! O suco eu joguei na pia, depois que nem o cachorro conseguiu tomar. A Coca-Cola passava de copo em copo e eu salivei tanto que quase me babei. Contentei-me com um copo de água e fui dormir.

E assim se passou todo o primeiro mês. Fui forte. Comi salada, bebi água e revistas de boa forma passaram a ser minhas melhores amigas. Quando chegou meu aniversário, meus colegas me presentearam com uma festa surpresa. Todo mundo comeu torta de doce de leite com côco e eu uma gelatina diet de morango. Deprimente? Não. Mas estava cinco quilos mais magra. Minha empregada dizia todos os dias que eu estava com cara de doente. Minha irmã me apresentou uma foto da Mortícia e disse que parecíamos gêmeas. Tingi meu cabelo de loiro depois disto. Meu namorado não agüentou meu mau humor e me abandonou. Legal foi quando eu desmaiei na academia e meu pai foi me buscar. Ele parou em uma sorveteria e fui obrigada a comer um sorvete de chocolate inteiro para me recuperar. Posso garantir que aquele desmaio me fez muito bem.

Mas a verdadeira glória foi quando nem meu próprio chefe me reconheceu. Ele pensou que eu fosse a nova estagiária. Simplesmente o máximo, até porque a moça é quase dez anos mais jovem que eu. Acho que foi por isto que, quando o verão atingiu seu auge, eu já estava com oito quilos a menos e completamente apaixonada pelo meu chefe.

O inverno chegou novamente e me encontrou com uma bela anemia. Felizmente, ela veio acompanhada de um marido. Sim, casei com meu chefinho. Anêmica, mas desencalhada. Para alguma coisa este meu sacrifício todo tinha que servir.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 26/12/2005
Reeditado em 12/07/2020
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