PERGUNTAS DA MINHA FILHA.

Minha filha tem cinco anos e como toda criança é curiosa sobre o mundo, suas perguntas existencialista me dão trabalho para responde-las, são bem elaboradas e questionam todo tipo de existência e as áreas da nossa vida. Como não deveria deixar de ser, sua primeira pergunta existencialista foi sobre a morte. Estavamos em casa assistindo televisão e de repente ela soltou: “Mamãe, quando a gente morre para onde vão os sentimentos?”. Confesso que fiquei sem reação. Minha mulher percebeu, se antecipou e respondeu: “Quando nós morremos os sentimentos continua com a gente, filha. Eles não morrem”. Minha esposa se saiu bem dessa, a pequeninha não questionou mais nada.

A segunda pergunta, também, estavámos assistindo televisão e ela perguntou: “Como morreram os dinossauros?”. Minha mulher disse que caiu um meteoro na terra e matou todos os dinossauros, então ela perguntou o que era meteoro. Minha esposa respondeu que era uma pedra muito grande que veio do espaço e caiu na terra há milhões de anos atrás. Por sorte ela não questionou o que era “espaço” e nem o que era “milhões de anos atrás”. Isso daria uma conversa por um bom tempo.

Outro dia estávamos no carro e ela perguntou (Suas perguntas geralmente são sempre neste momento, quando ela está no carro no banco de trás e quando está para dormir) “Como o mar foi parar no mar?”. Nós não respondemos, olhamos um para o outro com expressão de interrogação e ficamos em silencio. Dias depois disse a minha esposa que deveríamos pensar em algo para responder. Cheguei até a questionar essa pergunta com um amigo, mas ele foi filosófico demais. Disse que milhões ou bilhões de anos atrás caíram alguns cometas na terra e estes cometas tinham partículas de água, dando a entender que viemos de outros planetas. Não gostei da idéia, então resolvi dizer a ela que tudo foi parar nos seus lugares devido a natureza, que quando foi criando o mundo, colocou tudo nos lugares corretos, ajudado pelo papai do céu.

Outro dia ela perguntou para minha mulher: “Mãmãe, como a gente era antes de nascer?”. Minha mulher não respondeu diretamente como nós éramos antes de nascer, mesmo porque ninguém tem a resposta para esta pergunta, mas disse que ela era uma sementinha que a mamãe tinha engolido e que foi crescendo dentro da barriga dela formando a filhinha. Na hora ela não questionou mais nada, mas dias depois chegou para minha mulher e perguntou: “Mãe, me diz a verdade como que a sementinha foi parar na sua barriga”. Minha mulher a agarrou e duas rolaram pela cama dando gargalhadas.

Outro dia cheguei em casa e tinha uma pergunta pra responder, ela havia perguntado: “Como que é o anel de saturno?” Minha mulher não soube responder, e eu disse a pequenina que na verdade o anel era uma nuvem de fumaça que quando aparece nas fotos forma um anel, mas era apenas fumaça, na verdade eu não tive muita certeza da resposta, pois havia estudado isso no ginásio a muito tempo, então, decidi pesquisar na internet e encontrei uma definição resumida: “Os anéis de Saturno são constituídos essencialmente por uma mistura de gelo, poeiras e material rochoso e embora possam atingir algumas centenas de milhares de quilômetros de diâmetro, não ultrapassam 1,5 km de espessura”. Vi que a minha resposta tinha lógica e não resolvi mudar.

Novamente estava deitado no sofá e ela soltou: “Papai, como era os anos cinqüenta?” No momento da pergunta esqueci de perguntar o mais importante, da onde nasceu a idéia para ela perguntar isso e acabei respondendo intrigado que nos anos cinqüenta era como hoje, só que não havia certas coisas que hoje temos, como por exemplo a internet, mas que as pessoas viviam do mesmo jeito, eram felizes como se é hoje. Ela se virou e saiu, dias depois ao lembrar da pergunta pensei em questionar a ela o por que, mas desisti, talvez ela não saberia explicar e acabaria com a magia da pergunta. Procuro responder tudo de maneira lógica sem interferir no seu modo de pensar.

Outro dia estava deitado na cama vendo televisão, final de feriado, ela deitou do meu lado e falou: "Papai, eu gosto do sentimento que tenho “de” você". Eu não entendi muito bem o que ela queria dizer, poderia ser o sentimento que passo para ela ou o sentimento que ela tem por mim, então questionei: “Como assim filha?”. Ela disse que gostava quando eu brincava com ela, e quando eu estava no trabalho sentia saudade de mim. Ela me abraçou e logo adormeceu.

Outro dia estava assistindo televisão e ela perguntou: “Papai, quem é a Hillary Clinton”. Disse a ela que a Hillary Clinton era uma mulher que estava tentando ser presidente dos Estados Unidos. Ela respondeu que menina não podia ser presidente. Eu disse que podia sim, tanto é que ela estava tentando ser. Disse que menina poderia ser tudo que menino é, até jogadora de futebol. Então ela disse que queria ser presidente do Brasil, mas também queria ser professora, policial, veterinária e confeiteira de bolo. Olhou para mim sorridente, me deu um beijo e correu para a sala.

FIM