Contando minutos

Estacionou o carro, desceu, foi até a caixa de correio e pegou a correspondência. Examinou uma por uma. Contas a pagar, folder de propaganda, jornal, revista, etc. Uma, porém, lhe chamou a atenção. Era um convite de casamento de sua amiga Ana Pertence.

Aquele convite provocou nela uma reação estranha.

De repente, o celular toca. Era um cliente.

- Bom dia! Claro Senhor Roberto! Podemos fechar negócio ainda hoje, se for bom para o senhor. Às quinze horas está bom? Na agência. Ok. Até breve.

- Beleza!

Pega o celular e liga para agência.

- Ricardo, Vou fechar a venda do Porsche caramelo ainda hoje. Coloque a placa de vendido, por favor.

Entra no carro e volta a pensar no casamento da amiga Ana Pertence. Sua melhor amiga estava se casando. E estava grávida!

O que estou fazendo de minha vida? Pensou. Estou com vinte e cinco anos. Já tive vários namorados. Nunca me apaixonei. Não fiquei com ninguém mais de seis meses. O que será que está errado comigo? Sou ótima vendedora, bastante influente, carismática, bem apanhada, sedutora. Será que sou muito exigente? Será que estou confundindo meus namorados com máquinas?

- Olá, tudo bem?

- Você que é a Celeste? Eu sou Roberto Moreno.

- Ah! Sim, Vamos fechar o negócio.

- Agora.

Voz agradável, pensou. Muito atraente. Se fosse um veículo, seria uma Ferrari.

Absorta em seus pensamentos nem percebe que ele a observa.

De repente...

- Oi!

Aquela voz traz Celeste de volta a realidade.

- Oi! Estava distraída. Perdoe-me.

- Só perdôo se você for comemorar comigo.

- O quê?

A minha compra e a tua venda.

- Ah, sim, é verdade. Bom negócio para ambos.

- Agora?

- Pode ser, caso esteja livre ou quem sabe mais tarde!

- Meus clientes não costumam me convidar para comemorar, estou lisonjeada e surpresa. Vou verificar os meus compromissos para hoje, te ligo mais tarde. Combinado?

- Ficarei aguardando.

Esse “peixe” é do bom, pensou. Meu pai, pescador veterano, sempre diz que para pegar um peixe bom, não se pode ser afoito.

Celeste! Tem um cliente na linha dois para você, diz a telefonista.

- Boa tarde! Celeste Mangabeira. Temos sim. Qual o ano e a cor?

O celular toca novamente, é a amiga Ana Pertence querendo saber se recebeu o convite.

- Recebi sim, posso te fazer uma visita lá pela dezessete horas? Combinado.

Telefone toca outra vez.

-Sim, é ela.

- Quem? Roberto Moreno! Oi Tudo bem? Tenho compromisso à tarde, mas amanhã será outro dia. Se você não me ligar na parte da manhã, te ligo na parte da tarde.

Acordou mais cedo e ficou buscando uma razão plausível para cumprir com o combinado. Passou a manhã inteira atendendo aos telefonemas em sobressalto. E, de vez quando se perguntava porque estava exageradamente ansiosa. Acompanhou os últimos minutos da parte da manhã como se estivesse perdendo uma batalha, e se perguntava se realmente cumpriria com o combinado caso ele não ligasse até as doze horas.

Doze horas, nada, treze horas, nada, quinze horas, nada. Decide ligar.

- Alô! Roberto Moreno! É a Celeste Mangabeira. Conforme combinamos, estou te ligando. Como está o Porsche a quem devemos uma comemoração. O que? Amassado? Causastes uma pequena colisão? Ela fica ouvindo o relato do acidente. Foi impelida a aceitar o convite para comemorar. Até para confirmar se era verdadeiro.

Ficaram de se encontrar no sábado depois de meio dia.

Passou a noite a refletir sobre a sinceridade do relato. Estaria ele dizendo a verdade? Queria me ver? Essa é boa! Deve estar inventando essa história de bater o carro em frente à agência quando o sinal fechou, só porque estava tentando me ver. È melhor ele inventar outra! Está querendo me impressionar. Pior que até sábado ele já terá consertado. E se ele me apresentar a nota do serviço? E se foi mentira dele? E se...

Só restava agora contar os dias, as horas, os minutos até esclarecer essa estranha história de vez.

MARLENE LEOCADIO
Enviado por MARLENE LEOCADIO em 27/03/2008
Reeditado em 20/06/2008
Código do texto: T919375
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.