Na base da chinela

Acho que nunca escrevi da alegria, mas há uma vontade contida que confesso ser difícil executar na tristeza e esse é o desafio de hoje:

Malicunvélio, nome sem graça este, era esquisito, chegava toda semana num baile diferente, baile porque seu caminhão nunca passava nas famosas baladas das ruas luxuosas e noturnas de São Paulo ou nas beiras das praias de Florianópolis ou ainda ao Parque das Nações em Campo Grande.

Ele gostava mesmo é de baile, no máximo da força desta palavra. Nestes bailes eram exigência trajar: chinelos, de dedo é claro; camisa, xadrez era a mais vistosa; e calça jeans, desfiada na barra.

As mulheres só entravam de cabelo molhado, mais bonito e culto seria se a barriga estivesse de fora; os seios deveriam estar naturais por baixo do vestido e tinha de pular junto ao forró que também tinha de ser puro, assim, sem nada da inteligência do universitário, tinha que ter o gosto picante do chamado risca-faca; o peso do triângulo; o grito da sanfona nordestina e gonzaga de alma além da voz do cantor que tinha que ser rápida, quase incompreensível.

Malicunvélio, em cada cidade passada, deixava seu suor em uma dessas mulheres que passavam por sua vida e não ligavam para seu porte desajeitado, magro, alto, nariz grande que, segundo elas contam não era só o nariz, era também o pé...

É, não consegui reproduzir a alegria, a não ser que o leitor a quem faço o meu apelo, esteja curado de seu preconceito e queira curtir, assim, na base da chinela...