Tropeçando em nada, caindo sobre coisa nenhuma.

Encaremos a verdade. E a verdade é que estamos sempre indo ou chegando de algum lugar. Começando ou então terminando algum projeto sempre diferente e mais ambicioso do que o último. Não paramos! É domingo estamos pensando na segunda, no mês seguinte, nas feriais.

-Qual o jeito melhor de fazer...?

-Está tudo errado!

-Está tudo errado?

Alguém me lembrou que o relógio do tempo numa certa época andava mais lento. Às vezes acho também aconteceu isso comigo. O natal e meu aniversário em certa época, que deve ser a que esse alguém me lembrou, demoravam muito para chegar. Quando chegava o dia, pra chegar na noite era uma eternidade, principalmente quando sabia um presente. Nova longa e eterna espera, até o próximo.

Talvez por isso que estamos sempre começando, saindo, terminando ou voltando de algum lugar. O presente é tão pequeno que nem vivemos já é passado. E a roda gira independente. Olho para o firmamento através da janela e vejo o céu. Faço-me perguntas: Será que é esse o mesmo céu que estava no dia do nosso descobrimento? Já se passaram 500 e mais alguns anos e o que nele mudou, mesmo?

Não quero mais me fazer perguntas.Quero agora contemplar!

As palmeiras Imperiais do Botânico assistiram os passeios de Dom Pedro e de Dona Maria Leopoldina e ainda estão lá as caminhadas do XXI. O tempo passou para elas? Como era Olinda com os holandeses desembarcando? Como era subir o velho Chico, sem Paulo Afonso? Como era a Borborema no lombo de mula? Lampião, herói ou bandido? Recife sem pontes? As noites com lampiões a gás, eram nas românticas? Melhor o fogão á lenha? O cuscuz de milho ralado. A massa para canjica no espremedor de pano. A massa de bolo sem batedeira.

Bonito suas tetas mexendo no ritmo da massa. Nesse momento o meu tempo pára.

Por favor! Senhor dos Tempos pare tudo!

Meus movimentos param no ritmo de tua dança. Sua blusa de elástico caída presa aos ombros, saia solta e a panela presa entre as pernas. Teu rosto arremete os cachos dos teus cabelos caídos entre os olhos. Um pingo de suor se mistura com teus olhos negros caramelo e escorrem até a ponta do nariz. Pareces chorar, mas o teu sorriso largo desmente, olhas para mim. Derreto-me qual açúcar na cara melada.

Por favor! Senhor dos Tempos e das horas pare tudo agora! Congele-me! Mais um minuto! o meu fôlego agüenta. Teu rosto se transforma. Preocupa-te comigo.

-Queres untar a fôrma? A massa está pronta.

Unto a fôrma, lambo teus dedos amanteigados. Olho teu corpo genuflexo expondo tuas ancas, colocando o bolo no forno. Volto à espreguiçadeira, sento, fecho os olhos.

Vou até cordilheiras, ando nas águas claras do pacífico, nas montanhas do Tibet. O mundo estar tão próximo. Fala-se de violência em frase santas. A América se prepara para a guerra. As pessoas cada dia e cada vez mais distantes. Chegam e saem em busca de seus interesses.

-Qual o jeito melhor de fazer...? Olhas para mim.

-A calda?

Faço gesto de silêncio, esboças sair.

- Vem não sai, fica por perto, senta aqui no meu colo, a cavalo, quero te balançar um pouco. Este é o melhor jeito.

Crontei.

Depois eu cronto mais.

Manuel Oliveira
Enviado por Manuel Oliveira em 30/03/2008
Código do texto: T923240