†CATARSE†

Eles o fitaram, enojados, repulsivos, amedrontados desferiram gritos torpes. Visões pérfidas, enganosas. Apedrejaram-no com aforismos incessantes, gélidos, dolorosos.

E ele, acovardado, conflitado, sentia a amarga angustia de um ser excluso. Um excremento social. Imagem denegrida, difamada, desleal, afligia-se em inexprimíveis prantos.

Eles, o publico, gesticulavam ferozmente, ansiavam desvairadamente mais, urravam, berravam. Selvageria completa, humilhante, desnecessária, atrativa.

Ele, a atração, estrela do circo de horrores, amórfico, desfigurado, intimamente debelado, seu derrotismo lhe prendia nos açoites.

O publico inexorável, sôfrego, bebericava a cena como um doce licor, dessedentavam-se nos gemidos, sentiam-se donos da pobre vida, lamentavam o rejeito ser inatacável, comandavam os passos do carrasco com eufóricos berros.

A atração, transpassada, recebia com pavor o acerbo movimento de penitencia, em vão murmurava suplicas ignoradas, arrastava-se como cão acanhado, inutilmente lutava por uma pausa na incansável tortura.

Deliravam, não se continham, a apresentação se findava, a sede não saciada, voltavam para seus lares, leves como plumas, sem tensão, comentavam sobre o desfeche “lindo, incomparável, quanto sangue, lindo”..........

Jogado, desvanecia aos poucos, libertara-se finalmente, enfim acabado, ouvira palmas, passos, via rostos turvos, suas pálpebras estavam cansadas, não ouvia mais, não via mais, descansava, o espetáculo havia acabado. A apoteose finalmente alcançada.

Ewerton Lages