A coitada da Prostituta

A coitada da Prostituta

Alexandre Lucas

O importante mesmo era ganhar dinheiro, qualquer prata poderia garantir serviço completo, a satisfação do seu bolso e do seu cliente era indispensável, não importava a hora, manhã, tarde, noite e madrugada, aquela prostituta tinha uma disposição capaz de derrubar até touro.

Em um dos dias da sua intensiva jornada de trabalho, aquela velha prostituta, de 35 anos de idade e 20 de profissão, conheceu numa casa de taipa de sete de quartos para locação de prazer, o seu local de trabalho, um jovem do interior de uma cidade pequena, um tal de Zé Mago, um estudante tímido e observador, que logo virou freguês daquela casa de operárias do sexo. Mas, a sua história mesmo era ficar sozinho numa mesa, nada de mulheres, apenas uma, duas, no máximo três cervejas e pronto. Ficava ali, como quem estivesse fugindo de uma paixão, de uma paixão dessas impossíveis, se é que existem paixões impossíveis. Na verdade, estava ali para esquecer um encontro desencontrado com a filha de um industrial metido a coronel, a xerife de cidade-vilarejo, que não aceitava a aquele Mago, filho de trabalhador aproximar-se da sua filha Madalena, muito menos tocá-la, esse foi o motivo que fez com que Zé deixasse a sua família e a sua paixão de lado para respirar os outros aromas, outras aspirações e sossego. Mas como esquecer Madalena, uma menina-mulher, com apenas 18 anos, com uma voz rouca e macia que provocava desejos à distância de tão sedutora que era a sua voz. Ao aproximar-se dela qualquer um ficava imóvel, encantado hipnotizado com a sua beleza rara, ela detinha um corpo franzino e cheio ao mesmo tempo, tudo na sua medida, parecia que cada contorno tinha sido feito e refeito no intuito de não contrariar a perfeição, alguns até diziam que ela era obra de um engenheiro e de um artista, pois cada peça estava em seu devido local e cada traço apresentava detalhes minuciosos, lógico que essa beleza não era gratuita, mas comprada, o que não tira o mérito de Madalena, mas filha de rico não é bonita por acaso. Mas, Zé teve o seu momento de felicidade, um único momento eterno, teve em seus lábios a boca e o corpo de Madalena. Isso são apenas lembranças boas, mas que ele tenta esquecer, mas como esquecer?

Talvez na mesa do bar, do bar das prostitutas. De tanto freqüentar aquela casa, tornou-amigo da velha prostituta, amigo de confidencias, até que um dia, quase que por acaso, conheceram cada parte, cada curva, cada ponto, cada fantasia um do outro, isso foi o suficiente, para o adeus, o adeus definitivo, do corpo comércio. Dali pra frente, tudo foi freqüente entre os dois, a divisão de tarefas, o prazer diário, as preocupações, a luta pelo pão, pela sobrevivência. Já estavam dividindo um único teto.

Mas depois de alguns meses, ela, a ex-prostituta precisou fazer alguns exames corriqueiros, para sua desgraça e não sua surpresa tinha contraído o vírus da AIDS. Fato que não escondeu de ninguém, Zé Mago foi o primeiro a receber a noticia e apóia-la. O casal foi ser perna, braço, ombro e juízo um do outro, pois Zé já estava contagiado.

Sentindo-se só, quase só, com saudade da família com a qual não mantinha contatos desde a sua saída da cidade-vilarejo resolveu mandar uma carta, como se fosse um acenar de adeus, talvez a ultima despedida, para quem já estava o seu tempo contado.

Para sua surpressa, recebeu uma carta resposta da família, a sua família como boa interiorana comentou a vida de todos da cidade, quem tinha deixado quem, quem estava ganhando quanto, quem chegou perto da morte, quem comprou mais terras, nenhum detalhe foi esquecido, mas um fisgou seu espanto a que dizia “filho a fia do coroné, a Madalena, morreu à sete meses de doença do sexo, uma tal de AIDS”.

Alexandre Lucas
Enviado por Alexandre Lucas em 11/01/2006
Código do texto: T97314