CONTO DE NATAL REAL

MEU CONTO DE NATAL REAL PRA VOCÊ...

NILMA

Irene casou-se nova demais;Deus enviou-lhe a guarda de apenas uma filha...

O tempo passou e a amante do marido virou segunda esposa; e ...as duas mulheres dividem o mesmo quintal.

Nunca o trabalho deixou de existir como caminho para todas as horas de crise; e jamais Irene deixou de cantarolar e sorrir; era seu jeito de fazer terapia de alma e transcender as dores;dividindo com o psicólogo divino seus dramas pessoais...

Sua moleca cresceu tão linda como um raio de Sol mouro e não demorou pra paixão bater forte; um ´´ Ser ficante´´ virou namorado e em breve tempo,transformou-se em pai da neta de Irene.Na sensualidade das paixões,na beleza da juventude, este cidadão desapareceu dos olhos de todos da região;deixando sua marca de vida em traços femininos da pequena Brígida.

Suely, filha de Irene, apesar da vida de mãe e da escassez do conforto, continuou linda e morena distribuindo sensualidade e doçura a todos os enternecidos pela sua beldade!No período de três anos, encontrou um outro ´´Ser ficante´´ que acabou por tornar-se pai do herói Jéferson....Com o mesmo destino da aura clara do mundo masculino, este papai-novo,mudou-se de bairro e apenas acena para todos de algum ônibus que as vezes passa pelas ruas da cidade...

Qdo. a linda e fogosa Suely foi para o hospital, Irene começava a trabalhar lá em casa.Cantarolando a bordo de um corpo forte e rechunchudo de 44 anos, Irene sorria e dizia que sustentaria também mais um netinho ; que agora era ´´ meninó- hómi´´...

Três dias após ao nascimento de Jéferson,Irene entrou lá em casa dizendo baixinho :-´´ Obrigada! Eu sabia``/ ´

´Obrigada! Eu sabia!´´

Repetidas vezes...

Claro que eu ;em toda curiosidade; não resisti em perguntar-lhe se estava falando a sós com sua alma!?!

Ela gargalhou e lembrou-me que também tenho esta mania de resolver fatos e cumprir compromissos diários ,dialogando comigo mesma...

Na hora pensei o quanto éramos parecidas de corpo, alma,idade;nossas diferenças eram apenas raciais,culturais e de oportunidades diferentes ao longo do tempo até aquele momento....

Irene começou a narrar o término de seu dia anterior...Encontrara Gilmar;jardineiro com expressão morena e decidida ,com o olhar piauiense-brilhante ;de quem acredita pouco em sorte e muita crença; crê apenas na dureza do mundo e numa luz divina que vez ou outra ilumina espaços diferentes dos seus..

.Há pouco tempo tornou-se pai de ´´menino-hómi´´/moleque macho/´´que seguirá regras fortes da educação nordestina!

Amem´´...

Os dois dirigiram-se ao ponto de ônibus juntos...A tarde era de nuvens negras no céu.O temporal era testemunha que Irene ria para não chorar.Naquele dia ,pra que sua filha saísse da Santa Casa ,ela precisava pagar umas injeções no valor de 19 reais.O salário de Irene tinha sido destinado quase todo ao pagamento de suas contas justas; e em menos de dois dias,desapareceu da carteira!Envergonhada, a mesma não quis pedir vale no emprego e nem incomodar as comadres;sendo assim, rezava para que Deus e ´´sua tempestade´´´´ alumiasse´´ o caminho;rindo e rindo,contendo as lágrimas e participando esta fé de que teria uma ajuda celeste,Irene caminhou por 300 metros em chuva forte,contando a Gilmar esta história e aguardando um sinal divino!

Gilmar ria à larga e tentando conter as variações do guarda-chuvas e seus malabaris ao vento ;que encharcava os dois,dizia em bom som que ia aguardar milagres como o aparecimento do Sol a secar a humanidade de tanta água!

O lamaçal se estendia e quase Irene caiu,tamanho seu escorregão ao chegar na portaria de serviços.No meio da lama,próxima a uma de suas sandálias de fivelas estouradas, algo brilhava!Uma tira faiscante numa cédula amarelada;uma nota de vinte reais!

O coração da morena fez-se Festa de Fé!Logo pensou que poderia ser piada de algum moleque e uma cordinha puxaria a nota! Mas não!

Com as pontas dos pés Irene puxou o sinal divino;gargalhou e não conteve as lágrimas rolando e rolando sem parar em sua face;Deus estava ali e o milagre era maior que o Sol!Gilmar ria feliz pela companheira de trabalho e num sinal de positivo num dos dedos,festejava

esta pequena-grande manifestação de concretização da Fé....

Uma semana depois, a linda Suely para que o pequeno Jef não acordasse na claridade,colocou um edredom fino em cima do abajur;e todos adormeceram pesadamente.

Irene acordou com um choro fraco de criança recém-nascida e uma tosse de som fraco e longínquo....Era o herói Jef tossindo e salvando a família inteira de um incêndio;com apenas sete dias de vida!Irene chegou atrasada lá em casa, rindo ( pra variar) e contando que tudo havia corrido bem! Que graças a Deus o garoto acordou, tossiu,e ninguém morreu. E qto. às perdas materiais!?Ah! Isso o dinheiro conseguido com trabalho pode comprar! ´´ A gente se vira, depois faz prestação´´....Eu com a mania de dar apelido a todos,logo ofertei ao Jef, o de herói,fumacinha ;que em sua fortaleza manteve viva a família cheia de histórias de Fé,Coragem,Desprendimento e União...Retribui a gargalhada sentindo a paz divina em todos os cantos de casa;não contive lágrimas e nem abraços;minha pele alva enlaçava a negritude de Irene como ´´ as teclas auras e negras do piano´´;!

Juntas rimos, choramos e aprendemos sobre coisas que não se pode apalpar;coisas da alma,que nos nutrem,nos aquecem,nos fortalecem!

Que Neste Natal possamos instalar em nós estas e outras histórias do nosso dia-a dia;incorporarmos o Amor,a Fé,a Alegria da negra linda-Irene.

Não há dia bom ,nem ruim...Só dias e dias pra serem abraçados com o nosso melhor ;pra que possamos fazer histórias cada vez mais encantadas; na nossa novela pessoal. Boas Festas.

Nilma- Contadora de Histórias Reais....Verdadeiros contos de Natal!

DEZEMBRO DE 2007.

Atenciosamente:

-Nilma Oliveira Finholt