Amor

Luísa e Bernardo eram jovens, iniciantes da vida profissional. Conheceram-se a partir de um amigo da faculdade e a sinergia entre ambos fez eles se apaixonarem rapidamente. Começaram um namoro julgado como “perfeito” pelos amigos. Era raro vê-los brigando e muitas vezes parecia que um adivinhava o pensamento do outro e mais difícil ainda era não ver o sorriso no rosto dos dois quando estavam juntos.

Bernardo era um rapaz sério e muito compromissado com os estudos. Valorizava muito os amigos também. Luísa era sua primeira namorada para valer. Com ela, fazia planos de casamento, futuro profissional e pessoal e não se imaginava mais longe dela. Tinha tido outras meninas especiais na sua vida, mas nada de grande amor.

Luísa, menina meiga, era de fato uma daquelas meninas para casar. Quando dormiam juntos ele fazia questão de, no dia seguinte, trazer-lhe o café da manhã na cama. Era assim, um romântico nato que começava agora, aos 23 anos de idade, a deixar esse lado aflorar. Mandava flores para ela toda semana e sempre havia uma surpresa a esperando.

Sentia uma felicidade inexplicável com Luísa, não conseguia mais dormir sem antes pensar no brilho dos seus olhos e no calor das suas mãos. Esta mulher despertava sensações nele jamais despertadas por outras. Não conseguia mais pensar em outras.

Bernardo detestava shopping cheio. Na verdade já odiava aquele amontoado de lojas e pessoas - cheio então era o mesmo que o inferno em sua visão. Mas sua namorada precisava comprar algumas coisas e ele, como bom namorado, deveria acompanhá-la. Pelo menos até os primeiros quinze minutos. Depois disso deixou ela à vontade e foi para a praça de alimentação tomar um chopp.

Observava as pessoas ali, mulheres andando como em uma passarela de moda, homens sem paciência e crianças gritando. Mas foi no meio da observação e do chopp que aquela imagem se fez na frente dele, trazendo uma felicidade acima da esperada.

Liliane vestia um vestido simples, mas parecia ter sido feito especialmente para seu corpo grande. Grande não no sentido adiposo, mas de beleza e presença mesmo. Era um mulherão, de chamar a atenção. E o mulherão estava lá, sozinho, falando com ele.

“Quanto tempo!” – Disse ela com um sorriso lindo.

“Quanto tempo mesmo, desde antes da faculdade!” – Respondeu ele com admiração.

“Posso pegar um chopp e te fazer companhia?”

“Claro”

E enquanto ela ia em direção à lanchonete pegar o chopp ele estava ansioso. De repente, começou a balançar as pernas e a suar. Não via Liliane desde a última vez que fizeram amor naquele dia na praia. Ela era mulher do mundo agora, se tornara escritora conhecida e membro da Academia de Letras, talvez um pouco intelectual demais para ele, pensava ao se lembrar dela e da história dela.

Foi um daqueles casos carnais que tinha tido. Não cem por cento carnal, também conversavam muito e gostavam da companhia um do outro. Conversavam muito, muito mesmo, e foi lembrando dessas conversas que Bernardo começou a sentir uma saudade desesperada de Liliane.

Ela voltou com aquele ar de menina mulher lindo. Sorriu. Seu sorriso para ele era uma poesia, na qual os dentes faziam os versos e a junção perfeita desses versos fazia uma bela poesia: seu sorriso!

A tarde foi de conversa até a hora de ela ir embora. Ele tomou mais uns dois chopps e esperou Luísa. Ela chegava satisfeita, porém cansada, quase com uma sensação de pós-orgasmo. Saíram do shopping já perto da noite. Ela pediu para ele deixá-la em casa.

Bernardo entrou no apartamento dos pais aéreo, pensando em Liliane e no papelzinho com telefone dela. Ligar, ou não ligar era a grande questão. Estava dividido, sentia uma vontade imensa de ligar, mas também pensava em Luísa. Olhava para o telefone como um enigma a ser decifrado. Não sabia se aquele objeto era um amigo ou um inimigo. Respirou fundo e pensou na mesma sensação que tivera ao lado de Lili. Também pensou na sua felicidade.

O apartamento era pequeno, um quarto. O suficiente para Liliane e seus cadernos. Mas era aconchegado, ventilado e tinha puffs pelo chão. Bernardo sentou, ela abriu uma cerveja, como antigamente. Ela foi ao quarto e pediu um instante. Ele esperou, ainda sem entender o que fazia ali. Há dois anos não tinha estado sozinho com nenhuma outra mulher além de Luísa. E agora estava ali, tendo a mesma sensação que tinha com Luísa, mas agora estava misturada com saudade.

Lili voltou com um baseado já enrolado. Bernardo engoliu seco, não fumava desde quando entrou na faculdade. Como nos velhos tempos eles beberam, fumaram e riram – parecia há seis anos atrás. Ele sentiu-se maravilhado a noite inteira.

Estava dirigindo para casa enquanto o sol nascia. Pensava no que diria a Luísa e a seus pais. Dera-se conta agora que tinha dormido fora de casa. E só agora se dera conta de Liliane. Tinha sido uma noite maravilhosa, durante toda a noite, todo sexo, toda risada e toda conversa sentia-se daquela maneira especial. Lembrou-se, tinham dormido um pouco na cama dela, e foi ai que ele acordou e foi para casa.

Lembrou-se também que, quando acordou, não se sentiu mais especial. Apenas deu um beijo no rosto dela e saiu do apartamento. Estava nervoso demais, pois jamais, em dois anos e meio, havia mentido para Luísa, e agora, diria o que?

Eram seis horas da manhã quando chegou e no seu celular não havia nenhuma chamada perdida dela. Dormiu.

O celular tocou às 8:30 da manhã. Era Luísa, perguntando como ele estava. Nem desconfiou que ele havia saído a noite. Isso deu um alívio nele, mas ao mesmo tempo fez ele se sentir pior – estava mesmo traindo ela.

No caminho para a casa de Luísa ele sentia-se estranho, com medo de chegar. Sentia a manhã como um horário tenebroso. Suas pernas tremiam muito.

Chegou. Respirou fundo e tocou a campanhia. Luísa demorou mais ou menos um minuto para atendê-lo. Ele ficou ainda mais nervoso.

Olhou ela toda e pensou no quão linda era aquela mulher na sua frente e, de repente, começou a ter as mesmas sensações que tivera quando encontrou Liliane no shopping. Os olhos de Luísa brilhavam e quando seus braços o envolveram pareciam ainda mais quentes do que nunca. A felicidade fazia seu coração disparar. Sentia o abraço daquela mulher como um porto seguro. Encarou-a nos olhos e percebeu que era naquele brilho onde se encontrava seu amor. Seus olhos brilharam também, oferecendo o amor dele a ela.

Beijou-a como se fosse a primeira vez e juntos descobriram onde estava, verdadeiramente, seu amor.

Malluco Beleza
Enviado por Malluco Beleza em 12/05/2008
Código do texto: T986543
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