UM BOM DE CAMA

- Minha fia! Esse seu namorado é um cabra muito do preguiçoso, viu. Tá veno né. Adispoe não diga que seu velho pai num avisô.

- Tô veno pai... ô Genilson levanta daí home. Já é 4 da tarde e tu nem te mexe pra nada.

- Calma benzinho tô descansando o armoço.

- Tu num ta me entendeno home é um trabalho que tu tem que arranjá, home!

- Tô descansano pra isso, tu num sabe meu benzinho, pra quano eu pegá pegá de vêiz.

- Tai é cum cunvessa desde que te conheço tu é essa moleza mole, pra umas coisa é uma corage danada, mai prá outras...

- Que tais quereno dizer, muié? Disse Genilson, já de pé querendo se aproximar de Larinha.

- Sai pra lá, hoje num tô cum cabeça, home.

Era difícil para Larinha falar assim. Desde que avistara Genilson sua vida, desde lá, não fora mais a mesma. Seu namoro, longe das vistas de seu pai, era mais e mais e tanto mais que muitas vezes o pote transbordava de prazer e inundava sua vida. Ou estava no namoro ou o dia todo pensava nele. Tinha consciência sim, de tudo. Mas o que fazer? Vinha-lhe um nadinha de consolo, pensava, não há um sem defeito.

- Pronde cê vai? Perguntou já meio dengosa. Enquanto que Genilson esbravejava depois que dava uma topada na pedra de encosto da porta de saída que seu Quirino postava fora do lugar. Justamente pra Genilson tropeçar.

- Topada é que bota pobre pra frente Genilsinho. Dizia numa risada entre desdenhosa e sarcástica.

- Vou na casa de mãe, ocês aqui tão num nervoso só, Vala-me! Ói seu Quirino um dia jogo essa sua pedra fora, viu. E ocê Larinha, minha flor, um dia ainda lhe cubro todinha de vestidos novos e jóias e ainda te levo para passear nas capital, visse. E desmancho essa tua cara de orgulho em sorriso só pra mim. Vai ver!

Bateu a porta sem esperar resposta.

Era um fim de tarde que o Criador, no sétimo, acho, sentou naquela sua espreguiçadeira, quem sabe igual a que Genilson, na casa de seu Quirino, tirava suas intermináveis sonecas , Assistiu a Sua Inigualável obra. O sol fechando o olho, lá longe, depois da serra. O céu alaranjado sombreava suas nuvens rarefeitas. Nem um pingo de chuva prenunciava e um latido de cachorro mais longe ainda chamava a noite. Um vento leste refrescava o caminho de Genilson até a casa de sua mãe.

- E esse casamento sai ou sai? Repetia D. Chiquinha nas idas e chagadas de Genilson.

- Sai, mãe?

- Mais quando, menino?

- Quando? Quando! Quando? Num sei mãe.

- Seu Quirino faz gosto?

- Tô veno uma grande jogada mãe.

- Grande jogada é? Grande jogada! Cuidado não! Soube que tu anda nos escuros com fia dele.

- Quem disse , mãe? Pego esse safado.

- Eu que sei!

- Quer saber, mãe? Eu vou pra casa de Larinha lá é mais sossegado. Tá veno, nem cheguei?

- Vai! Vai! Vai logo! Óia! vê se no caminho encontra um trabalho o mundo já ta cheio de vagabundo.

- Mais mãe? A senhora vai ficar sozinha? Pai, tá no sul no corte de cana. Não mãe sei das minha obrigação, fico. Tenho que lhe proteger. Dizia, indo para o quarto já se espreguiçando batera-lhe o sono meio fora de hora.

- Tem café no bule, cuzcui e molho de galinha. Deixa um pouquinho pra manhâ.

- Sua benção, mãe?

- Deus lhe abençoe, lhe dê juízo.

O dia passava assim emendado com a noite. De manhã, casa de Larinha. Num podia ficar sem ver a namorada. Já que estava, almoçava. Depois do almoço, uma descansadinha ninguém é de ferro. Seu Quirino já estava se acostumando e até gostando. Resmungava vez ou outra. – Quem num gosta de trabalho tem sempre uma conversas boa. - Larinha subia para o céu e na descida o calor do prazer fazia da vida um inferno de todos na defesa de Genilson. Num dia desses em que as discussões se acaloram, sempre nos fins de tarde. Genilson depois da topada na pedra de seu quirino, sai indignado. Assim meio zangado.

- Pai, o senhor viu Genilson, hoje?

- Não!

- Será qui aconteceu alguma coisa, pai? Inté essa hora ele num apareceu!

- Se ele sumiu a partir de hoje é teu dia de sorte!

Nesse mesmo momento uma voz chama a atenção de seu Quirino.

- Ô seu Quirino? Era uma voz de mulher.

- Quem de lá?

- Chiquinha!

- Se chegue D. Chiquinha, a casa é sua!

- Tô de passagem! Genilson tá aí?

- Num é que Larinha estava justo perguntando do disgramado, D. Chiquinha.

- Ô xente home ele num tá aqui não?

- Não!

Três dias depois apareceu Genilson. Larinha já tinha chegado a conclusão que ruim com Genilson, pior sem Genilson. Mas precisávamos ver o estado do “cabra”. Tudo sujo. Arrepiado. Com uma fome danada.

- Tua má sorte voltou, Larinha! O que foi que houve rapaz? Acudiu seu Quirino.

- Deu saudades sogrão? Ironizou.

- Home tome tinência. Fiquei com pena de Larinha, Isso sim. O que houve?

- Coisa minha! Seu Quirino.

Encheu a barriga. Matou a saudade de Larinha. Ficou por ali até que anoiteceu se despediu foi pra casa da mãe e sumiu de novo. Três meses depois a buzina de um carro rasga o silêncio daquelas paragens. A cachorrada acompanhou querendo morder o pneu até de frente da casa de seu Quirino. De dentro do carro desce Genilson. Óculos escuros Ray Ban, chapéu de massa, todo no terno, um linho lascado, engravatado, sapatos brilhando mais que cuspe em azulejo.

- Assim já é demais! O que houve agora? Cabra safado!

- Meu sogrão! É assim que recebe seu genro. Vim pra casar com Larinha.

- Mas o que houve?

- Coisa minha, sogrão! Coisa minha.

Larinha sem demora lascou-lhe um beijo mesmo na frente do pai. Não se conteve. Enquanto abraçava o monte de vestidos que Genilson trouxera.

- Benzinho eu num disse que um dia eu ia te dá muitos vestidos e te levar pra passear.

Foi uma festança danada. Todos ficaram de mutuca na orelha pra saber o que tinha havido. Como tinha ocorrido a grande jogada de Genilson.

Ora, ora! Claraluna, Evelyne, Ray, Escolbar, Edbar, Ângela Rodrigues e meus queridos leitores. Eu também fiquei.

E vocês querem que eu cronte? Vou crontar! Só desta vez!

As más línguas se encarregaram do esclarecimento. Lembram dos três dias que Genilson sumiu e voltou todo sujo? O “cabra” estava dentro do mato procurando uma pedra igual àquela que escorava a porta de seu Quirino. Numa daquelas sonecas de depois do almoço, acordou assustado pelo brilho ofuscante que vinha da pedra. Justamente a pedra que seu Quirino deixava no meio do caminho para ele topar. Substituiu-a para num dá na vista. Pois acreditem a pedra era de ouro e tinha aproximados uns três quilos. O resto vocês já sabem.

Olhemos melhor às pedras do caminho. Se não forem de ouro servem como ensinamento.

Crontei.

Depois eu cronto mais.

Manuel Oliveira
Enviado por Manuel Oliveira em 17/05/2008
Código do texto: T994108