Tarde no parque
-Se eu me interessasse mais por todas essas pequenas coisas seria realmente feliz.
-Mas são as coisas grandes as mais intensas, não?
-Coisas grandes são ilusórias, nos tomam os olhos e os ouvidos, restando-nos apenas a boca larga.
-Já o ínfimo é o que cala a alma. E o que preciso é silêncio pleno.
-O silêncio é uma grande mortalha... Tolo! O ínfimo traz é conforto.
-Silêncio, meu caro, é o primeiro indício da morte da alma...
-Queres tua alma morta. É isso?
-Se não vejo motivos para devotar amor às coisas pequenas, pois que assim seja.
-Talvez te entenda... O segredo da vida, possivelmente, encontra-se no que é simples. Mas o falso brilho das coisas grandiosas insiste em ofuscar sua graça e nobreza.
-A questão é que o grandioso jamais é grande suficiente para confortar nossas insaciáveis almas humanas. Retrocedemos à velha história dos falsos ídolos e suas imagens surreais que insistem em nos vender por aí.
-O grandioso nos leva à ruína, pois, geralmente, é inverossímil.
-A simplicidade é que traz ao âmago autêntica vontade de viver.