Robo japonês

Hoje estive pensando o tempo todo onde guardei?

Sei que está num lugar fácil...

Não, não é a caixa de bombons que escondi da minha menina;é algo mais ...REAL!

Trata-se da menina!

Eu a fiz parar de crescer, foi tão fascinante abrir uma gaveta e deixa-la.

Não havia mais barulho nem manifestação alguma de vida, ela foi aos poucos desistindo,expirando

até virar a boneca de pano mais colorida que já vi!

Tão linda, tão moreninha, cabelos lisos, olhos amendoados; um primor!

Ah! Claro, deve estar com os brinquedos do sótão, nos porões do tio Abílio, ele sempre remexe seu bilboquê.

A boneca precisa estar lá; estou saudosa;quero lhe dar vida;quem sabe possamos brincar de pique-esconde novamente,pular corda,assistir ao robô japonês que voa e defende a gente de todo o mal!?

Hoje eu preciso acreditar que o robô vem ao meu encontro e só posso dizer isto à menina;mais ninguém entenderia!

Preciso fazer uma reunião à moda antiga, convocar as vizinhas e fazermos uma eleição;qual de nós será visitada pelo robô ?Ele aparece na tv antiga, todo preto e branco sobrevoando Osaka.

A quem ele irá ouvir e defender esta noite?A ´´eletróla´´ da minha irmã parou,estamos todos aguardando o herói chegar!

Se acaso merecer ,meus pesadelos acabarão, dormirei em seus braços fortes e só o céu se fará presente em meus sonhos; arco-íris,algodão doce colorido,laços de fitas douradas e rosas em todo o parque ;anunciando que só as meninas brincarão de roda, só as garotas escolhidas ficarão no baile...

Onde está a chave do sótão?

Este tio Abílio quer brincar sozinho e pensa que só existe bilboquê para se divertir?!

Vamos titio, apareça e me conte; hoje preciso voltar no tempo, quero heróis, colo e canções;preciso voltar e dar vida à menina , antes que as doze badaladas a transformem em pano para sempre; quero brincar de roda e mostrar para o mundo todo que ainda sei dançar...Eu, a menina e o robô japonês; num baile que apenas os que viveram compreendem!

Universo colorido do tal ´´passado -presente´´,´´ patch-work´´ de lembranças e saudades.

Maio de 2008.