Mallum-Maçã e espelho-a jornada de Sprout

Prologo

Já olhou torto para um espelho? Já tentou ver seu reflexo de cabeça para baixo? Já viu coisas das quais te fez olhar para trás e descobrir que o espelho mostrou alguém que não estava do seu lado? Há aqueles que pensam que um espelho é apenas um mero objeto que só nos permite observar nosso reflexo. Mas, também há aqueles que dizem que por um minuto, por um único minuto, os espelhos podem mostrar o que eles realmente são. Lugares escuros, frio, nuvens que só faltam se abaixar para te tocar. A meia noite, exatamente a meia noite podemos atravessar os espelhos, como num passe de mágica, alcançamos um mundo bem mais antigo que o nosso porém, não conhecido por nós.

-Ah não! Não não não e não! - resmunga um sujeitinho carregando uma maçã mordida em suas mãos, vestindo um capuz azul tentando esconder o rosto, o pequeno ser de 1,30 de altura se levanta irritado e começa a caminhar com seu tênis All Star vermelho e uma bolsa de couro pendurada sobre o corpo.

Meia noite e um, meia noite e um, essa é a hora marcada pelos relógios. É uma noite quente, o céu esta bem estrelado e como as mais belas fadas, a lua se mantém de forma estonteante com seu brilho.

-O que foi que eu fiz?!

Caminhando por um bosque no qual se encontra perdido, as folhas parecem quebrar sob seus passos pesados e cheios de raiva.

-Droga! E agora? O que eu vou fazer?

A cada passo do pequenino o bosque se mostrava maior e mais silencioso, mas nem tão silencioso quanto ele desejava. Não muito longe podia se ouvir os uivos que preenchiam as árvores, o pequenino poderia até estar perdido mas, sabe muito bem o que aqueles uivos significam, ou melhor, a que tipo de ser ele possui.

-Era só o que faltava...

Apressando os passos, o pequenino continua seu caminho sem direção, sem notar que se encontra contra o vento, na direção oposta do uivo e por um instante o pequenino ouve apenas seus passos por cima das folhas, aliviado ele suspira e continua.

-Boa noite baixinho! - diz com uma voz voraz e rouca bem atrás do pequenino que arregala os olhos enquanto morde a própria língua.

Pêlos negros e forma robusta, presas horrendas e garras afiadas, de macacão jeans e um hálito de atum. Em frente ao pequenino solitário, uma figura meio humana meio lobo se apresenta faminto, mais lobo do que humana convenhamos, se agacha e repete o cumprimento.

-Eu disse boa noite.

Assustado o pequenino da um passo para trás, levando a maçã mordida até suas costas.

-Bo-boa noite. - responde o pequeno.

Tendo três vezes o tamanho do pequenino, o homem-lobo se abaixa quase encostando o focinho em seu futuro jantar.

-O que traz alguém do seu tamanho nesse bosque? Hey, o que você tem ai atrás?

-Hum, uma maçã!

-Uma maçã?

-Sim, e esta mordida! Veja! - mostra a maçã com suas mãos tremulas e olhos a ponto de lacrimejarem.

-Olha só, um prato que vem com sobremesa! BWAHAHA - gargalha o homem-lobo.

O pequeno olha para os lados tendo consciência da situação, ele sente o vento, analisa cada folha pela qual andou, faz uma contagem rápida de quanto tempo ja viveu. Pelas regras da cidade que nasceu ele ainda não tem idade pra fazer o que esta planejando, embora vê apenas isso como solução. Ele respira fundo e assim diz:

-Espere senhor lobisomem! Você não vai querer me comer.

-Me dê um motivo para não te devorar.

O pequeno tira o capuz e aponta para suas orelhas pontudas, como as de um gato.

-Ta vendo?! Eu não sou um humano, sou um demônio e como tal posso te dar algo de valor se fizermos um pacto!

-Você esta sugerindo, que eu faça um pacto com um demônio que poderia estar agora mesmo dentro do meu estômago?

Tremendo mais ainda, tira de dentro de sua boca bem debaixo da língua, um pedaço de papel enrolado feito um cone, esse papel tem uma cor amarelada e cheira enxofre.

-Ah que nojo! - grita o lobo.

-Esta vendo?! Esse será nosso contrato, se você o assinar poderá me pedir algo e em troco de sua alma eu poderei lhe entregar o pedido.

O lobo se levanta deixando cair gotas de sua saliva, coloca as mãos no bolso de seu macacão e diz ao pequenino:

-E assim eu estarei devendo minha alma à você?!

Quase chorando o pequeno acena a cabeça dizendo "sim" ao homem-lobo que, por sua vez, cai em gargalhada.

-E você acha que com isso eu te deixaria sair vivo? O que me impediria de te devorar assim que me entregar o pedido?

-.............nada..............

-Mas, sabia que eu nunca devorei um demônio antes? Eu poderia passar mal, talvez...Vamos fazer esse tal contrato.

-Você não vai mais me devorar?

-Ah, claro que vou! Não vi utilidade em te dar minha alma e deixar você livre.

-O pior de tudo senhor lobisomem, é que eu concordo com você... Mas podemos fazer outro tipo de contrato, eu posso te dar algo cobrando uma coisa menor que sua alma.

Com um sorriso mostrando as presas, o homem-lobo se abaixa novamente em direção ao pequenino.

-E o que eu posso pedir?

-Bem, pode ser o que você quiser, mas tem que me dar algo que possua um grande valor pra mim.

-Que tal a sua vida? Aposto que ela tem mais valor pra você do que minha alma.

-É... Isso é verdade. Não sei se esse contrato pode funcionar...

-Bem, -diz o lobo - então fazemos assim, eu aproveito essa maçã que esta carregando pra colocar na sua boca e mando tudo goela abaixo!

Rapidamente o pequenino senta no chão e começa a escrever no papel amarelado.

-E o que o senhor vai desejar senhor lobisomem, em troco da minha vida?

-Quero cantar Blues como Robert Jonhson!

O pequeno pára de escrever e olha diretamente para o lobo:

-Espere ai! VOCÊ QUER CANTAR BLUES?!

-Sim! - responde o lobo.

-Você será um Bluesloboman?

-E qual o problema nisso?

-Qual o problema? VOCÊ É UM LOBISOMEM!!!!!

-Hey hey, você é o jantar aqui, então trate já de terminar de escrever isso.

Calado e de cabeça baixa o pequeno demônio continua a escrever seu contrato e entre árvores escuras ele termina sua escrita: "Aqui nessas linhas eu juro deixar esse demônio viver em troca de me tornar um Bluesloboman, e que tudo se realize".

-Pode assinar senhor lobisomem, bem em cima do meu nome.

O lobo pega o contrato e o lê cerca de cinco vezes, quando não lhe resta dúvidas ele pede a caneta.

-Devo assinar em cima do seu nome? É esse aqui? Sprout?

-Sim, esse é meu nome.

-Você se chama Sprout?

-Sim!

-BWAHAHAHAHA!! Que nome ridículo para um demônio! BWAHAHA!

Trocando o medo por raiva, o pequenino pega o contrato da mão do lobo e confere sua assinatura, bem em cima do nome Sprout esta o nome Basilio. O pequeno então guarda com todo cuidado o contrato dentro de sua boca, no mesmo lugar de onde o tirou, da uma mordida na maçã que carregou pelo bosque e aponta um dedo para o homem-lobo.

-Haha, esse contrato garante que você não pode me matar senhor Basilio!

-Não, não senhor Sprout, ele só garante a minha carreira no Blues, coisa da qual eu posso desistir se você fizer alguma gracinha.

Com os olhos a ponto de lacrimejar, numa noite quente, bem diferente do que lhe é acostumado. Sprout veste novamente seu capuz, amarra seu All Star vermelho e começa a caminhar sobre as folhas secas do bosque.

-E tudo isso por causa de um espelho...

Em um pedaço de papel amarelado como um pergaminho antigo, esta o nome de um lobisomem; Basilio, o primeiro "cliente" de Sprout.Os relógios marcam meia noite e meia.

(revisado por Kamila)

Ramones (Silvio Romão)
Enviado por Ramones (Silvio Romão) em 29/05/2008
Reeditado em 10/06/2008
Código do texto: T1010832