UM CONTO SOBRE A PRIMAVERA

Um dia, enquanto dormia e sonhava, pasmem, duendes me levaram para ver uma rainha. Disseram-me que veria a mais bela de todas as rainhas. Filha predileta do criador, a quem este, esmerou-se em dar-lhes todos os atributos que um ser pode ter, desde o encantamento, à beleza, suavidade, majestade, perfume e harmonia.

Assim, disseram-me que ela era conhecida como a Deusa da beleza, muito perfumosa e gentil. Deusa do amor e também da esperança. Sua missão era enfeitar todos os lugares, os campos, os prados, as montanhas, os quintais, os jardins ou qualquer lugar onde couber uma flor e esta puder injetar romantismo no coração das pessoas. Pediram-me cuidado. Ela era humilde e magnânima e vivia vestida de flores e tinha um dom muito especial: por onde passava, tudo florescia a sua volta.

Ela traz esperança aos olhos do homem cansado e faz as mulheres palpitarem, principalmente aquelas que tem o amor no coração. Ela era muito especial, inspira os poetas, cativa as crianças, aumenta as paixões dos namorados e faz os pássaros enlouquecerem de alegria, sendo ainda capaz de alterar os espíritos de todos os viventes.

Ela vive num reino encantando e em um período do ano, ela toma a forma de uma mulher belíssima. Incrivelmente formosa e sedutora.

Bem, esqueci de dizer que fui conduzido no meu sonho, a este lugar, além dos duendes também por dois Pintassilgos multicoloridos que me guiavam no caminho, voando um pouco a frente sobre minha cabeça, enquanto explicavam-me, incrédulo, que sim a primavera, nada menos que a primavera, queria me ver naquela noite.

Finalmente chegamos e mal chegamos, adentramos no castelo onde vivia a rainha. Nem preciso dizer que o castelo dela, era deslumbrante. Como se fosse um jardim do céu, maravilhosamente desenhado, com uma harmonia de cores que refletia a paz, a alegria e o amor. O seu castelo era coberto, tomado de flores vibrantes!

Ela apareceu de repente. Era mesmo belíssima! Tinha os olhos de tulipas azuis e lábios encarnados como os da rosa mais vermelha. A sua pele lembrava a maciez das pétalas de flores muito sedosa e macia.

Havia na cabeça, uma coroa trançada de lírios brancos e margaridas, que brilhava, presa por uma tiara de crisantemos. Havia ainda um manto de rosas e flores de todas as cores, nas suas costas, caindo até o chão. Um deslumbre!

Ela percebeu meu baque ao vê-la e me deu tempo para recuperar o fôlego, com um minúsculo sorriso de satisfação no canto da boca.

Então ela foi direta, cumprimentou-me e disse que eu era bem vindo e que tinha me chamado porque precisava muito da minha ajuda.

-Ãh..a..ajuda? Balbuciei. Como assim? Como posso ser de alguma ajuda? Tenho plantado algumas flores na vida, de fato, cuidado de algumas plantas, mas não creio que possa ajudar muito....ela me interrompeu com doçura.

- Calma, eu explico. Eu preciso que você semeie flores nos corações dos teus semelhantes!

-Anh! Como assim? Redargui. Mas, como posso fazer isso? Sou um ser muito ocupado, tenho que correr atrás da vida, dos compromissos, tenho contas a pagar, obrigações, vivo cheio de boletos, com filhos e ...Novamente fui interrompido com graça.

-Meu caro amigo, não se desespere! Eu sei que você pode ajudar-me nesta missão. Você tem que descobrir o poder que está dentro de você. Vocês humanos tem isso de sobra, basta deixar desabrochar a vontade. Estas coisas, como tudo na vida, se faz, fazendo.

-Ãh bom. Mas como espera que vá realizar grandes coisas? Sou um Zé den’dagua, uma sardinha no oceano, não tenho voz, ninguém nunca me ouviu.

-Ë simples, meu caro Govedice, como eu lhe disse, se faz as coisas, fazendo. Apenas isso! Faça todo dia alguma coisa na direção dos objetivos que você quer atingir e quando você menos esperar, pronto.

Lá estará você orgulhoso dos seus feitos. Você vai fazendo, sem desistir, cada dia um pouquinho e a coisa acaba sendo feita. Comece por fazer o bem a todos que encontrar em seu caminho! Ajude-os sem pedir nada em troca. Seja cooperativo, quando lhe pedirem algo. Ame seu semelhante e faça por ele o que você faria por você mesmo! Depois você irá descobrir que ele é parte de você e que ao fazer coisas boas para ele, é você que recebe a recompensa.

Feito isso, ela se despediu com um enorme sorriso e me fez uma última recomendação:

-Olhe, não critique quem não está contribuindo, ensine-o a contribuir!

Gente...,!! Eu saí de lá, guiado, pelos simpáticos Pintassilgos.

Despedi-me dos duendes e voltei rapidinho para minha casa, onde meu corpo dormia como um velho cão nas tardes frias de domingo a beira da lareira aquecida.

Depois que acordei pensei muito neste sonho. Achei legal, ter sonhado com a primavera, logo eu que a amo desde pequeno. Mas como fazer o que ela me pediu?

Depois de muito pensar. Resolvi escrever este pequeno conto e tomá-lo como minha primeira tentativa de contribuir. Agradeço se você gostar. Se não gostou, não faz mal. Sorria para a vida, não amaldiçoe as dificuldades, seja gentil com todos e pense na primavera, este período de harmonia no planeta e assim semeie alguma semente boa por aí, no coração dos teus semelhantes, tá bom?

Ah.. ela não me pediu isso, mas desde esse dia, eu passei a andar com os bolsos cheios de sementes e sempre que passo por um descampado, jogo-as na esperança que um dia elas venham a florir. Eu nunca vi nenhum resultado ainda, mas não desisto. Ah sei lá, sei que é bobeira de gente tonta, mas um dia li que as sementes ficam até 30 anos no solo sem perecer, então eu pensei puxa: Se elas podem aguentar até 30 anos aguardando condições satisfatórias para nascerem, então minha atitude não será em vão. Amém.

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 10/06/2008
Reeditado em 08/09/2020
Código do texto: T1028471
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