CONTOS DRACONINOS 2 - ARESSETH , O DOURADO

A lua , um disco luminoso, paira acima de sua cabeça suspenso num céu negro. Guido Anatolli, um comerciante de uma vila próxima, cavalga despreocupado em direção a sua casa. Para espantar o frio noturno assobia uma velha canção. Arvores enegrecidas pela noite margeiam a estrada.

Então com violência é arremessado de encontro a uma arvore. Atordoado tenta erguer-se, mas uma terrível dor o contem. A sua frente uma visão o paralisa: um enorme dragão. Suas escamas douradas reluzem a luz do luar. A criatura com as patas dianteiras sobre o seu cavalo calmamente crava os dentes no pescoço do animal. O som das mandibulas do dragão triturando ossos e carnes do equino invade sua mente. O medo invade a alma de Guido. Se continuar ali será a próxima refeição é a certeza que o assombra.

Reunindo todas as forças de seu corpo tenta arrastar-se o mais longe possível.

- Onde pensa que vai homenzinho? A voz soa como um trovão acima da cabeça de Guido. Ele não acredita que é o dragão que lhe indaga. Seus olhos encontram os da imensa criatura. Os olhos do dragão são incandescentes feito duas chamas. “ Perdeu a voz , homenzinho??” insiste o dragão.

- Tenho que chegar em casa. Balbucia Guido.

- E onde é a sua casa, homenzinho?

- Em Camarana, mais ao sul. Responde o amedrontado comerciante.

- Conheço a região. Há uma floresta cortada por um extenso rio e belas montanhas. O dragão aproxima-se ainda mais de Guido que de pavor encolhe-se. “Como sou conhecido em Camarana, homenzinho?” o robusto comerciante fita-o tentando sondar o que está passando pela mente da diabólica criatura.

- Morte Alada. Responde Guido. Então o dragão lança ao ar uma estrondosa e apavorante gargalhada.

- Gostei! Isto demonstra temor e temor significa respeito. O dragão ergue o olhar na direção da lua. “Houve um tempo em que seus ancestrais nos temiam e nos veneravam como deuses. Eramos respeitados e erguiam-se monumentos e templos em nossa homenagem.” O dragão volve o olhar para Guido. “Deseja saber o que aconteceu para os seus semelhantes passasse a caçar?” Guido aquiesce, pois não tinha outra coisa a fazer. “Sua especie, homenzinho, prolifera muito rápido, feito rato. A propósito há uma relação muito estreita entre humanos e camundongos. Pois, onde estão os homens lá estão os ratos. Mas deixemos isto de lado por enquanto.” O dragão acomoda-se sobre as patas dianteiras de formar que sua face fique de frente para Guido. “Veja, um dragão leva mil anos para atingir a idade adulta e os da sua especie quinze; enquanto uma fêmea dragão bota um ovo por ciclo de quinhentos anos as fêmeas humanas todo mês tornam-se férteis podendo gerarem um ou mais filhotes a cada nove meses. Outra característica da sua especie é se alastrar pelo mundo feito erva daninha”.

- Só isso não explica o fato de os caçarmos. Atreve-se Guido.

- De fato isso não explica tudo. No entanto com o aumento de sua especie fatalmente houve a disputa por território entre dragões e humanos. Além disso vocês ao longo do tempo transformaram aquelas ferramentas rudes de pedra lascada em armas letais. Assim quando o primeiro homem descobriu que poderia usar estas armas contra os da minha especie nunca mais nos olharam como antes. Pois, teme-se e venera aquilo que pode nos destruir, mas não aquilo que pode ser destruído. Os olhos do dragão tornaram-se ainda mais incandescentes. Guido pensou que o fim estava próximo.

- É correto que não os venero, mas eu sou apenas um comerciante que deseja voltar para a sua casa. Eu não sou caçador de dragões e nunca participei de nenhuma caçada. Assim sendo, ou você deixa eu seguir meu caminho ou acaba logo comigo e siga você o seu caminho. O dragão fita-o com severidade por alguns minutos surpreso com o atrevimento e coragem da minuscula criatura.

- Você humanos são tão imprevisíveis que chego até admira-los por isso. Qual é o seu nome homenzinho?

- Guido Anatolli. Responde o comerciante com firmeza.

- Eu me chamo AresSeth, o Dourado. Lembre-se para sempre dessa data, Guido, a data em que esteve frente a frente com a Morte Alada e sobrevivera para contar a história. AresSeth ergue-se e sua passadas fazem o chão tremer. “Mas, Guido, lembre-se que dragões possuem temperamento feito humanos. Hoje AresSeth poupou-lhe a vida, talvez em outra oportunidade não tenha tanta sorte assim. E não esqueça de que existem outros dragões no mundo”. Com um salto poderoso o dragão ganha altura e suas vigorosas asas abertas ele voa. Rapidamente a figura negra de AresSeth desaparece no horizonte noturno. Guido então recobra a lucidez e suas pernas tremulas não o obedecem. Mas consegue num impeto sair em desembalada correria rumo a sua aldeia.

Sannyon
Enviado por Sannyon em 15/07/2008
Reeditado em 15/07/2008
Código do texto: T1081824
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