Mallum-Maçã e espelho-capitulo um

Capitulo um:

Erva Daninha

Normalmente ele estaria caminhando sob a noite, naquele lugar onde as nuvens escondem tudo, menos o luar. É até difícil imaginar como ainda esta de pé nesse calor tremendo, com seus All Star vermelhos e carregando uma maçã com três mordidas em sua mão, de capuz azul e uma bolsa de couro que nesse momente parece ter o dobro de seu pequeno corpo; Sprout avista uma cachoeira de cima de uma colina, a cachoeira da qual ele vem procurando a um tempinho. Sprout poderia até sorrir ao ver a cachoeira que procurava mas, seu humor atual não o permite.

-Enfim, cheguei.

Se aproximando da cachoeira o pequeno Sprout arrasta sua bolsa de couro até a margem, molha umas das mãos - a que não esta com a meia maçã -, respira bem fundo, prendendo bastante ar em seus pulmões, assim; solta um grito com toda capacidade que poderia ter:

-ANITAAAA!!

As águas tremem com seu grito, sua voz ecoa pela cachoeira, as folhas caem das árvores e os animais que ali rodeavam se afastam, o pequeno fica parado esperando algo e nada acontece.

-Maldito coelho leprechaum! Disse que ela estaria aqui! Por que eu fui confiar nele? AAHHH!!

Ele havia percorrido um longo caminho até chegar a cachoeira, sua bolsa agora, parecia pesar ainda mais, seus pés começaram a doer e o sol dava a impressão de queimar sua pele até mesmo por baixo do capuz. Os galhos de uma árvore fazem um barulho diferente, como se estivessem partindo, Sprout pode não ser muito experiente, mas sabe quando há algo em cima de uma árvore lhe observando, seu primeiro pensamento é de arremessar uma pedra ou outra coisa mais dura em seja lá o que for que esta na árvore, mas seus últimos contatos não foram tão amigáveis ao ponto de levar isso na brincadeira. Várias coisas passam pela cabeça do pequeno Sprout, ele tem certeza de que algo ruim vai acontecer, os galhos balançam mais e mais até que se pôde ouvi-los partindo, Sprout se vira rapidamente para ver o ser que terá que enfrentar dessa vez. Um tigre? Um caçador? Mais um lobisomem? Quando vê um ser caindo em sua frente, de cabelos curtos avermelhados.

-Uma nanica?!

Se levantando da queda uma pequena garota limpa suas roupas com as mãos, tão pequena quanto Sprout, não; até menor que Sprout. Vestindo uma saia de bolinhas e uma camiseta branca com a letra N, suas asas de borboleta são proporcionais a seu corpo magro, a pele palida da maior destaque ao cabelo vermelho, que embora curto faz com que tenha a atenção.

Sprout se aproxima da garota no momento em que ela se levanta, com o olhar ele a mede dos pés a cabeça, e uma certeza vem a Sprout, seja lá quem for essa garota, ela é exatamente 17 centímetros menor que ele. E embora nunca tivesse visto uma fada ao vivo ele sabe reconhecer uma quando cai de uma árvore, afinal, foi pra encontrar uma que ele chegou até a cachoeira.

-Não me diga que você é Anita?!

-E se eu for? - diz a fada.

-Ah, não! Você é menor que eu! Não pode ser a fada que eu estou procurando! Me recuso a pedir ajuda pra alguém desse tamanho!

A pequena fada levanta a cabeça para encarar Sprout quando vê a mão do mesmo vindo em sua direção, com as mãos fechadas Sprout da um soco na cabeça da fada, o chamado crock.

-Hey! Por que você fez isso? - pergunta a fada.

-Isso foi porquê você é menor que eu, e pode tomar outro se for Anita!

-E qual o problema se eu for Anita?

-O tamanho! - responde Sprout preparando outro crock.

A fada se afasta do demônio com um salto para trás, a uma distância onde o punho de Sprout não alcança; ela arruma a tiara em seu cabelo e coloca as mãos na cintura.

-Então trate de ficar longe de mim, eu não sou Anita.

-Bem, pra ter uma reação assim você só pode conhecer Anita, eu vim de longe pra me encontrar com ela e vou ficar bem irritado se isso não acontecer.

Um pouco assustada por sentir que Sprout falava a verdade, a fadinha começa a voar seguindo o rio formado pela cachoeira.

-Pode vir atrás se quiser, eu te levarei até onde Anita esta. - diz a fada.

Sprout começa a acompanhar a fada que parece tentar deixa-lo pra trás, em meio a corrida ele repara que a mesma se torna bem elegante enquanto voa, a cor de suas asas faz com que ela pareça maior. Após alguns segundos a seguindo o demônio nota que as árvores do bosque começaram a se aproximar dele, o rio que estava logo a sua esquerda ja havia desaparecido e a grama em que pisava era como pixe quente. Sprout nunca havia encontrado uma fada antes mas, já estudou sobre elas há algum tempo, ele sabia o que toda essa sensação significava, fadas encantam seus refugios, qualquer um que queira entrar em seu território se perderá por anos pelos bosques, ao menos que seja convidada pela realizadora do feitiço, e sabia mais uma coisa, essa fada em miniatura não esta voando sem direção, ela é uma convidada de Anita. Cerca de 15 minutos caminhando e Sprout ja se sentia totalmente perdido, sua única garantia é a fada ruiva a sua frente, ja seria um motivo para temer esses seres? Se apenas para esconder seu refúgio elas usam um encanto como esse, imagine se quiserem o mal de alguém. O pequeno demônio confere se ainda esta carregando sua maçã e até se confunde sobre direita e esquerda, mais alguns passos e uma cantoria pode ser ouvida, uma voz doce e aguda, um tom belo e relaxante, a sensação de desorientação de Sprout começa a desaparecer e o bosque se abre lentamente mostrando o rio a sua esquerda, o azul do céu e o calor que a pouco estava imperceptível.

Na margem das águas nota-se uma figura feminina, pele branca, quase uma seda - ou até mesmo mais macia - cabelos dourados e grandes, olhos azuis que pareciam um pedaço do céu, seus labios eram convidativos para qualquer homem e seu corpo inspiração para monumentos, um simples e delicado vestido a cobria deixando suas asas longas e brilhantes como diamantes livres para enfeitar as águas. Nunca em sua vida, Sprout tinha visto uma mulher tão bela, elegante e fascinate, diz para si mesmo que poderia ficar o resto do ano observando seus movimentos, a forma magnífica que sua boca se move para cantar, as asas tocando frequentemente as águas do rio, seus olhos majestosos acompanhados com profundas piscadas, suas mãos retirando roupas ensaboadas da água e batendo contra uma pedra, torcendo e pindurando num varal preso entre duas arvores e....

-Espere aí! VOCÊ ESTA LAVANDO ROUPA??? - surta Sprout, que não tem nenhum pingo de fascinio pela fada lavando roupa a sua frente.

-Estou. Hoje é sexta-feira, eu sempre lavo roupa de sexta-feira.

-Mas você é uma fada!!

-E só porquê sou uma fada não posso lavar minhas roupas?! E quem é você? Tem cheiro de ser coisa ruim. - diz a bela fada irritada, mas sem perder seu semblante majestoso.

Pousando entre os dois, está a pequena fada que trouxe Sprout, cabisbaixa, ela tenta explicar as coisas.

-Anita me desculpe, foi eu quem o trouxe aqui. Ele disse que te procurava, não tem cheiro de demônio perigoso e também se fosse iria se perder pelo bosque, mas chegou até aqui me seguindo.

-Hum, isso é verdade, mas mesmo assim ele é um demônio. - Anita enxagua algumas peças de roupas vagarosamente com um olhar mais sério - E como soube onde me encontar...

-Sprout. - diz o demônio já com uma expressão de mal humor.

-Bem Sprout, o que quer comigo? Vocês do "outro lado" nunca procuram por fadas e ainda aterrorizam, perturbam e infestam esse mundo.

-Calma lá, dona! Eu nunca fiz nada disso, é a primeira vez que atravesso um espelho e é por isso que estou aqui. Me falaram que poderia me ajudar.

-Um demônio que veio do "outro lado" quer a minha ajuda?! Em quê? - a fada agora, mal mexe em suas roupas no rio, seus olhos brilham de curiosidade, essa é a primeira vez que um demônio vem a sua procura.

-Eu atravessei um espelho... e ele quebrou.

As duas fadas ficam de boca aberta quando Sprout diz sobre o espelho.

-Sete anos! Sete anos! SETE ANOS!! - grita a pequena fada.

-É eu sei... - diz Sprout irritado e de cabeça baixa, meio que envergonhado de si mesmo.

-Quando se atravessa um espelho e logo o quebra faz com que você fique preso nesse mundo por sete anos, todo mundo sabe disso. Até alguns humanos, que acabaram adaptando esse fato em sete anos de azar na quebra de um espelho - explica Anita de forma elegante -. E como me encontrou Sprout?

Com a maçã mordida em três partes na sua mão, Sprout fala em um tom meio irritado:

-Fazem seis meses que eu estou preso nesse mundo quente, encontrei com muitas coisas estranhas, entre coelhos leprechauns e lobisomens que querem cantar Blues, nesse tempo um homem que eu encontrei me falou de você, ele disse que poderia te encontrar nessa cachoeira, não me lembro de seu nome, só lembro que ele usava uma gravata vermelha...

Em menos de um segundo a boca de Sprout estava tampada, Anita o olhava seriamente com o dedo indicador nos lábios fazendo sinal de silêncio.

-É bom que não se lembre do nome desse homem e mesmo se lembrar algum dia não o diga, dizer o nome completo desse homem faz com que ele se torne sua sombra, "O homem da gravata vermelha".

Sprout se cala,não sabe se foi pelo tom com que Anita falou ou se foi pelo fato de seu dedo macio estar em seus labios.

-De qualquer maneira vou querer saber de tudo. -diz Anita -Naya,prepare um café bem forte para nós,por favor.

A fada ruiva (que tem 17 centimetros a menos que Sprout) segue para uma gruta escondida pela queda d'agua.

-Café? -pergunta o demônio. -Fadas tomam café?

-Anita é viciada em cafeina...quando fica sem começa a ter alucinações. -responde Naya,a pequena fada.

Se sentando em uma pedra,Anita olha para aquele que a foi visitar,seu sorriso transmite ansiedade.

-Vamos Sprout,me conte tudo,quero saber o que fazia no "outro lado" e por que atravessou o espelho.

-Eu não posso. -diz Sprout de forma seca. -não posso contar nada sobre o "outro lado" e nem por que atravessei um espelho,há regras que não posso quebrar.

-Regras!?Já ouvi dizerem que voc~es demônios possuem regras rigidas,só não sabia que as seguiam pra valer.Ouvi dizer tambem que os mais jovens de vocês são chamados por um certo apelido,só não estou me lembrando qual...Ah sim,me lembrei.

O pequenino se esconde por debaixo de seu capuz de forma tão rapida e estranha que demostra muito na cara sua vergonha.

-Por que esta se escondendo?Não me diga que você ainda é...uma Erva Daninha!?

-ODEIO ESSE APELIDO!!! -grita Sprout bem irritado. -Não pareço uma erva daninha!

Anita sorri de forma graciosa deixando Sprout ainda mais encabulado por causa do apelido.

-Deixe isso pra lá então,não vamos tocar mais nesse assunto,vamos ver em que poderei te ajudar,quero que me conte o que puder então. -diz Anita com uma voz doce,Sprout se sente mais a vontade depopis das palavras da bela fada,sua ira diminui e ele levanta um pouco seu capuz.

-Naya,traga logo o café,a erva daninha vai começar a contar sua historia.

-NÃO SOU UMA ERVA DANINHA!

Irritado,assim esta o pequeno demônio Sprout,que confere a maçã em sua mão esquerda,naquele dia quente.

Ramones (Silvio Romão)
Enviado por Ramones (Silvio Romão) em 20/07/2008
Reeditado em 20/07/2008
Código do texto: T1089731