ARENA

Houve um tempo em que fui para o sul. Um menestrel havia me dito que lá existia um rei plebeu com costumes um tanto quanto diferentes. Então eu e Chacal nos dirigimos para lá.

--- Lobo, com que propósito viemos para o sul? – indagou Chacal.

--- Disse-me um menestrel que aqui o mal não reina absoluto e eu resolvi constatar. – respondi.

Andamos mais algumas léguas e fomos abordados pelos soldados do rei.

--- Parem nômades! – gritou sério. --- Vocês estão presos. – disse prepotente, enquanto os outros nos cercavam.

--- Quem disse? – perguntei calmo olhando ao redor, enquanto Chacal já estava com a mão sob o cabo da espada. --- Eu e meu amigo não temos pátria e nem temos um destino certo...

--- Basta nômade! –gritou nervoso com o dedo em riste. --- Vocês virão conosco e irão servir o nosso rei. – disse convicto certo de seu triunfo.

--- O cacete. – reagiu Chacal com previsibilidade, sacando sua espada. --- Eu não vou...

Fiz um gesto com a cabeça e ele calou-se, colocando novamente a espada na bainha. Os soldados tiraram nossas espadas e nos levaram como prisioneiros até a presença do rei.

--- Senhor meu rei, esses nômades viajavam por vossa terra sem destino. – relatou o soldado.

--- Não tenham medo... – disse o rei. --- Aproximem-se... Venham... – chamou-nos para junto dele. --- Devolvam-lhes suas armas guarda Teósio, não há inimizade entre nossa casa e eles. – disse sorrindo.

Os dias passaram e fomos tratados como visitantes e não como escravos como de início eu imaginava. Só nos pediram que não saíssemos a noite para passearmos pelos jardins, pois ele nos disse que soltavam animais perigosos para a sua proteção pessoal.

Chacal já não ligava para mais nada, só tinha olhos para Reich, uma garota do harém do rei, com quem até já havia dormido. E eu andava pelas sombras do castelo, tentando descobrir o que de fato acontecia ali.

Numa noite de festa, fomos apresentados à princesa Lucity, que morava num convento próximo dali. E vi pela primeira vez um escravo acorrentado ao chão. Lucity era linda, seus olhos eram verdes e sua pele alva como a neve, não conseguia parar de olha-la e assim que não agüentei mais de desejo fui ao encontro dela, mas o rei Sneiru interveio.

--- De onde estava fiquei a observa-lo jovem Lobo e percebi que não tirastes os olhos de minha única filha. – disse ele calmamente, mas percebi que estava escondendo sua raiva. --- O que queres realmente? – perguntou.

--- Nada demais rei Sneiru. – menti olhando em seus olhos. --- Só olhava sua filha com o mesmo propósito que o seu... Ela é muito bonita. – disse olhando para ela, transbordando de paixão.

--- Lobo seu propósito na minha corte está se encerrando. Você, como todos os outros já estão prontos para lutarem como gladiadores na minha arena...

--- Não me importo com o que fazes com os outros, mas eu e meu amigo Chacal não seremos seus brinquedos de prazer. Nós somos guerreiros e não serviçais a seu serviço. – respondi sério.

--- Guerreiros? – indagou o rei preocupado. --- Mas você disse que eram apenas viajantes. – comentou acuado.

--- Tive de mentir para não ter que matar seus soldados. –- revelei, deixando ainda mais nervoso. --- Não vou me tornar um brinquedo seu Sneiru. – disse seco.

--- Realizo qualquer desejo seu. – disse eufórico. --- Fique! – pediu aflito. --- Ao menos uma batalha e se venceres te darei qualquer coisa que pedir. – revelou entusiasmado.

--- Ficarei Sneiru, mas quero deixar bem claro que só lutarei se eu quiser... – disse sério e ele sorriu.

--- Ótimo. – concordou vitorioso. Deixei-os na sala do trono e fui andar pelo castelo. sem destino percebi que estava no pátio dos soldados e despreocupado vi que um dos soldados do trabalho era meu amigo Coiote.

--- O que fazes aqui amigo? – indaguei e ele me olhou sem crer em seus olhos.

--- Lobo... Posso fazer-te a mesma pergunta, mas acho melhor responder-te. Vim para o sul pois soube que o Lorde Mal estava formando um exército para invadir esse reino, então me alistei em seu exército para tentar dete-lo, estou na guarda a dois dias. – revelou. --- E você? – perguntou curioso.

--- Eu e Chacal estamos aqui a meses, mas apenas investigando. – contei. --- Mas hoje, depois de sermos muito bem tratados, descobri que o rei Sneiru nos queria como gladiadores... – algo chamou minha atenção. --- Estamos sendo observados. – disse sério ao meu amigo.

--- Observados, por quem? – indagou Coiote olhando ao redor.

--- Ainda não sei... – respondi atento.

--- Ah, descobri quem nos observa. – disse Coiote com um sorriso nos lábios finos. --- É a princesa, e pelo jeito que ela nos olha...

--- Imagino guarda... Vou até lá. – disse convicto.

--- Ficou louco Lobo? Ela é protegida por vários guardas. – disse Coiote. --- O rei Sneiru quer que ela permaneça virgem...

--- Virgem... Adoro garotas virgens. – brinquei e ele sorriu. --- Vou pela parede e entro pela janela. – disse cheio de paixão.

--- Ela também tem uma aia. – disse convicto.

--- Você pode se encarregar dela. – sugeri.

--- Você está completamente fora de razão Lobo, seremos presos por desacato ao rei... – olhei para o Coiote e ele cedeu a tentação. --- Tá bom, vou contigo, mas tenho que voltar até o amanhecer, pois será a troca de turno. – disse.

Começamos a escalar a parede sem sermos incomodados. E não foi difícil, pois sempre havia algum lugar onde podíamos colocar nossos dedos, e sem demora chegamos ao quarto da princesa.

--- Como vai princesa? – cumprimentei da janela.

--- Senhor Lobo, o que fazes aqui? – perguntou aflita, mas pude perceber que gostara da minha presença.

--- Não é preciso me chamar de senhor princesa, não gosto desse tipo de formalidades... – disse sorrindo, tentando conquista-la. --- Subi até aqui para conhece-la... – nesse instante Coiote chegou na janela.

--- Que petulância, vou chamar os guardas. – disse a aia, só que Coiote pulou na frente dela, não deixando que ela saísse.

--- Silêncio mulher, não precisamos de mais ninguém nesse quarto. – disse sarcástico, cheio de segundas intenções.

--- Acalme-se Déta. – disse a princesa sorrindo. --- Não quero que chame os guardas. – ordenou e essa foi minha deixa para pega-la no colo e leva-la para a cama. Quando olhei ao redor vi que Coiote também já levara a outra para o outro quarto. Soltei o cabelo da princesa e beijei sua boca, enquanto minhas mãos procuravam seus seios. --- Qual é o seu maior desejo? – perguntou ela.

--- No momento é tirar-te a roupa e fazer-te mulher. – respondi malicioso.

--- Só mais uma pergunta. – disse ela. --- Você é mesmo nascido de uma loba? – indagou curiosa.

--- Não princesa... Meu pai é quem era um lobo. – menti e os olhos dela arregalaram-se. E antes que ela voltasse a fazer alguma pergunta eu a beijei e começamos a nos amar.

Quando amanheceu...

--- AAAA... – gritou Coiote quando viu a luz adentrar em seu quarto. --- Lobo, seu filho de uma cadela. – me xingou. --- Já amanheceu, como vamos sair daqui? – indagou acuado, com medo de morrer.

--- Acalme-se Coiote, eu tenho um plano. – menti, pois nem me lembrava de onde estava. Mas sem qualquer aviso uma trombeta de guerra anunciou que estávamos sendo atacados e essa foi nossa salvação. --- Não falei-te... – disse confiante. --- Vou a luta minha querida...

--- Não vá Lobo, fique comigo. – pediu ela ainda deitada na cama.

--- Pensando bem...

--- Nem pense nisso Lobo. – disse Coiote ainda colocando sua roupa. --- Esse é o exército do Lorde Mal, é nosso dever ajuda-los. – disse ele, me lembrando da minha sina.

--- Você está certo amigo, vá na frente que eu já vou. – disse sério colocando as roupas.

Coiote seguiu em frente sem pestanejar, ele foi defender não só as terras do sul, mas também a luz e o bem.

--- Tens certeza que quer me deixar aqui... Nua? – indagou Lucity deixando a mostra seus seios.

--- Quem lhe disse que quero deixar-te? – perguntei beijando-lhe o seio. --- Eu quero é ficar aqui com você, mas não posso. Desde que nasci fui treinado para guerrear contra a escuridão, e fiz um juramento quando ganhei esse nome que não posso voltar atrás. Nem por você, nem por ninguém. – nesse momento imagens antigas invadiram minha cabeça. --- Vou para a batalha Lucity, e depois irei para arena como seu pai quer e meu prêmio será você. – disse convicto de minhas palavras.

--- Então vá meu Lobo, vá e cumpra seu destino. – disse ela fogosa.

Mesmo antes de que eu chegasse ao campo de batalha, o cheiro de sangue e o clamor do aço ecoavam em meu espírito e o totem preso nele, gritava por liberdade. Em meio a luta vi Chacal e Coiote sob uma pilha de mortos. Passei por eles sem me importar, eu queria o líder, queria o Lorde Mal, apenas ele saciaria minha sede de sangue. O destino não me sorriu e fui cercado por meia dúzia de guerreiros, que matei facilmente. Minha ira estava transbordando de meu ser e meus antepassados clamavam vingança. Não, eu não iria desistir enquanto os servos da escuridão não tombasse mortos diante de minha espada... Foi quando o escravo do rei Sneiru veio até mim.

--- Lobo, o guerreiro solitário. É esse seu nome, não? – indagou suado.

--- Sim, e o seu? – perguntei sem vontade.

--- Lois, mas se me permitir, a partir de hoje me chamarei Urso. – disse orgulhoso usando seu enorme machado com duas laminas.

--- Se eu permitir? – indaguei confuso. --- As coisas não são assim Lois... – pensei em explicar, mas vi quando Lorde Mal matava um dos nossos aliados. --- Pare cão covarde! – gritei, correndo em sua direção, esquecendo do escravo. --- Finalmente nos encontramos. Não há lugar nessa terra que possa se esconder de mim. – disse orgulhoso.

--- Não sejais ridículo Lobo... Ou devo chama-lo de Guil? – indagou com desdém, mostrando que conhecia meu verdadeiro nome.

--- Você pode me chamar de Lobo... Seu inimigo. – respondi de espada em riste.

--- Tolas palavras. – resmungou ele sorrindo. --- Não somos inimigos, tudo isso é apenas uma questão de tempo até que descubra seu verdadeiro potencial. – disse por fim confiante.

--- Você é um demente Maiden. – disse nervoso, chamando-o pelo nome verdadeiro.

Fui em sua direção com incrível velocidade, mas ele se esquivou com tamanha agilidade e jogou algo nos meus olhos. Continuamos a nos atacar sem muito resultado, pois assim como eu, ele era um grande espadachim. Certa altura da batalha meus olhos começaram a doer e ele me atacou pela direita, ferindo-me no braço, sem conseguir ver tropecei num corpo caído e desabei no chão, pensei que ali seria meu fim. Pois meus amigos estavam distantes, ninguém poderia me ajudar. Quando o Lorde Mal desferiu seu golpe final, uma sombra enorme tapou o sol dos meus olhos e defendeu o golpe, em seguida desmaiei.

--- Chacal, o Lobo acordou. – gritou Coiote.

--- Até que enfim, já começava a me preocupar. – disse meu amigo mais novo.

--- Não é preciso chorar minha morte amigos... – brinquei ainda tonto. --- Quem me socorreu? – perguntei curioso.

--- Não sabemos. – respondeu Coiote. --- Você veio nos braços do escravo do rei... Ele disse que te encontrou no chão. – disse por fim dando de ombros.

--- E o Lorde Mal? – indaguei.

--- Fugiu... – respondeu Chacal com cara fechada,

--- Merda! Não deveria ter desmaiado, deveria ter tido forças para ir atrás do cão. – reclamei.

--- Ele te drogou e te acertou no braço direito... – disse Coiote calmamente. --- Não havia muito o que fazer. – comentou.

As semanas passaram devagar, mas eu conhecia um caminho que sempre me levava ao prazer. Lucity, já não era mais uma princesa casta e parecia gostar disso. Então o dia do festival chegou e nos encontraríamos na arena.

--- Meu senhor e pai, eu poderia me casar com o guerreiro Lobo? – perguntou a princesa. --- Ele me disse...

--- Sei bem o que fazem nesses últimos meses filha... – cortou nervoso. --- Lobo irá morrer, planejei seu fim. – disse por fim com o olhar severo. --- Que o torneio se inicie! – gritou, fingindo um sorriso.

Teve início o torneio, a batalha seguia sem me despertar interesse, mesmo querendo ganhar a princesa. Só me vi interessado quando Coiote me contou os planos do rei para matar-me. Pedi que continuasse com a farsa até que a primeira seqüência de lutas terminasse. Tracei um plano e contei aos meus amigos que me ajudaram.

--- Consegui o carneiro... – disse Coiote em voz baixa.

--- Ótimo, traga-o aqui. – pedi. Matei o carneiro e com sua bexiga fiz uma bolsa. --- Chacal, tire o sangue do animal para enchermos isso... – mostrei a bexiga do bicho. --- Agora vai ser fácil me matar. – disse orgulhoso da idéia. Assim que enchemos a bexiga eu me deitei para descansar. Escolhi um lugar arejado onde ainda havia sol, pois o outro grupo ainda lutava, mas uma sombra enorme de urso me cobriu.

--- Lobo, posso lhe falar? – indagou Lois e eu abri os olhos espantado.

--- Foi você, não foi? – indaguei surpreso e ele fingiu não saber do que eu estava falando. --- Foi você quem me ajudou no campo de batalha, não foi? – continuei.

--- Não, quando cheguei...

--- Não minta Lois. – cortei. --- Antes de desmaiar vi uma sombra de urso, a mesma que tapou o sol agora a pouco. – ele me olhou nos olhos. --- E além do mais consigo ler seus olhos, e eles me dizem que foi você. – revelei. Sem ter para que mentir ele concordou e sentou-se ao meu lado. --- Porque você não gosta do rei? – perguntei.

--- E porque deveria gostar? – respondeu com outra pergunta.

--- Na verdade eu não sei, foi só uma pergunta para conversarmos. – respondi acuado.

--- Ele matou minha família... Todos eles. Não posso perdoa-lo. – disse amargurado. --- Vou mata-los assim que vencer nessa arena. – revelou seu plano.

--- Se vier a vencer? – discordei.

--- Foi por esse motivo que vim falar-te. Quero que desista da arena, você e seus amigos. – disse serio. --- Eu preciso e vou vencer os gladiadores e não quero ter sua morte em meu machado de guerra. Quando vencer quero uma luta justa entre eu e Sneiru... – comentou esperançoso.

--- Não posso fazer isso Lois, mas prometo-te que se vencer peço sua liberdade. – disse confiante.

--- Não, eu não quero sua ajuda nem a liberdade. – disse ele inconformado e ouvimos o toque da chamada.

--- Estão nos chamando. – disse calmo me levantando.

--- Você me ouviu Lobo, não quero sua ajuda. – disse ele teimoso.

A batalha prosseguiu, e a cada oponente vencido eu percebia que sobravam apenas eu, meus amigos e Lois. Não havia ninguém que poderia nos derrotar. A assim que o rei percebeu isso, mandou que sua guarda real entrasse na arena. A batalha pegou fogo, um novo animo acendeu-se em nós e logo vencemos os guardas e antes que pudéssemos fazer qualquer coisa Lois arremessou seu machado no rei, cravando-o em seu crânio. O povo silenciou-se e Lucity caiu em prantos.

--- Você é louco Lois, agora eles vão prende-lo, até podem mata-lo... E eu não posso ajuda-lo. – reclamei.

--- Não quero sua ajuda Lobo. – disse ele convicto. --- Ouçam todos! – gritou chamando atenção da turba. --- Fiz apenas o que qualquer um aqui faria... Vinguei minha família, que anos antes Sneiru havia matado. Jurei sob os corpos sem vida dos meus que mataria seu algoz e foi isso que fiz... – ele olhou ao redor enquanto todos ainda estavam em silêncio. --- agora vou deixar que Lobo me mate...

--- Não vou mata-lo... – discordei imediatamente. --- E aqui ninguém vai faze-lo. – disse olhando ao redor. --- O rei Sneiru foi mal e o que você fez, qualquer de nós gostaria de tê-lo feito em suas circunstâncias. – relatei. --- Iremos partir como chegamos, sem nada. E se alguém aqui tiver algo contra que enfrente a ira do Lobo e seus companheiros... Coiote, Chacal e o Urso. – gritei exasperado.

--- Eu tenho! – gritou a princesa aos prantos.

--- Não faça nada do que possa se arrepender Lucity. – disse seco.

--- Rainha Lucity, Lobo Solitário. – cortou ela. --- Não mandarei mata-los, pois hoje já houve muitas mortes, mas não quero mais vê-los no meu reino. De hoje em diante vocês não são mais bem vindos aqui. – decretou.

Tentei falar com ela, mas foi em vão, ela estava irredutível com seu novo papel. O que me restou foi partir, pegamos nossos cavalos e partimos. Fomos para o norte, pois tenho assunto inacabado por lá.