Regras de infância

santiago era um amigo bom quando não cruzava os dedos rindo de minhas covinhas do rosto, eu sempre quiz que ele fosse meu amigo mas o perdi no caminho do meio. Enquanto as fadas traziam estrelinhas pra mim, minha irmã chorava e sacudia a chupeta implorando leite e bolachas. Foi sempre assim, amarguras e tristeza nas noites de inverno e sempre na hora de acordar cedo o vidro da janela embassado me lembrava que mais um dia começara.

Sem música não se vivia lá e o cantar dos pássaros já não era suficiente. Rasguei a calça no joelho e lambi meus ferimentos, eu queria andar de bicicleta por aí e navegar na minha piscina de mil litros, até arrisquei algumas frases com a tinta dos tijolos bem no meio do passeio público, mas o tempo apagou. A minha mãe fazia o pão com manteiga mais gostoso do mundo, eu bebia o suco gelado sentindo vontade de pular e seguia saltitando na calçada estreita da mesma ladeira de sempre.

Quando minha irmã mais velha ia me buscar na secretaria da escola eu sacudia os pés sem parar, querendo voar pra casa, para a televisão, para meus brinquedos quebrados e feios, meu mundo estava ali e com meu trator maneta construía belos castelos onde os reis não tinham coroa e não guerreavam, regras de minha boa vizinhança, regras da minha vida, regras da minha infância.

rdeorristt
Enviado por rdeorristt em 03/09/2008
Reeditado em 20/11/2008
Código do texto: T1159034
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