UM CENTAURO NA AMAZÔNIA
                                                        
   (Hull de La Fuente)


Continuação cap. III



– Não é um bom dia. É um dia de tristeza. – respondeu o índio. – Você fala uma língua diferente daquela dos outros malditos brancos. O que você quer? Sabia que eu posso matá-lo com uma única flechada?

– E por que você mataria um visitante? Eu vim de muito longe. Mas acho que cheguei ao lugar errado. Que estrela é esta?

– Estrela? Aqui é a minha terra. Há milhares de anos, nós, da nação Yanomami, vivemos aqui. Só depois que o homem branco chegou, é que a nossa gente foi perdendo as terras, as roças, as caças, a cultura e a vida.

– Terra? Você disse Terra? Então eu estou realmente perdido. – afirmou saindo de detrás dos arbustos, para espanto do índio Kalibe, que de susto quase rolou pela encosta pedregosa e tomado de medo perguntou:

– Você é um utupê-yaroripê? (ser mitológico e humano). Quem o mandou aqui? Foram os meus pais? Não pode ser, eles também nunca viram alguém como você... Ou será que você é um feiticeiro inimigo? – O jovem índio não escondia a surpresa. Ele nunca havia visto um espírito igual aquele. Será que o canto fúnebre que entoara no sepultamento dos pais o tinha atraído? - Você é um espírito de homem ou de cavalo?

– Eu não sou um espírito! Eu sou um centauro. Há milhares de anos, meus antepassados viveram aqui na Terra. É uma história longa, aconteceu bem longe daqui... – disse. – Mas de onde eu vim a história que os nossos primitivos antepassados viveram aqui na Terra, é passada de geração a geração.

– Deve ser como a nossa história. – afirmou Kalibe – Mas nós não a escrevemos, nossa história foi sendo passada de pai para filho, até agora. Só o homem branco precisa escrever suas lembranças, porque eles não têm memória. Ainda assim, eles esquecem e mentem. Dizem que esta nossa terra é deles. Porque está lá no papel que eles escreveram. Mas não é verdade, nós sempre estivemos aqui...

– Como é o seu nome? Por que você está nu? – perguntou curioso, o jovem centauro. 


Continua...
Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 06/09/2008
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