Batida na porta

Passava das quatro horas da manhã, pela fresta da janela via-se a lua prata salpicada de estrelas guardiãs.

O cheiro da cachaça exalava pela madrugada, e no quarto fético uma faísca seria a centelha derradeira da vida pálida de Jorge.

Um Jorge sem eira nem beira.

Homem sofrido, vivia sob as teias de aranha da infância perdida.

Na fala, sempre revelando o menino por trás do Homem, o medo da chinelada, a carência pela falta de carinho, o sabão caido no poço, a surra pelo desperdício involuntário...

A alma despedaçada, deixada no limbo em umas das paragens sombrias no espaço cósmico.

Hoje a desilusão.

Os filhos perdidos na sentença judicial.

Perdido de si, afastado da realidade, vaga cambaleante, apenas restos da alopatia maldita, mata curando, cura maltratando.

Na boca que seca, na mente que vaga, é menino, é anjo, diabinho agressivo explodindo na tarde barulhenta.

A mente se agiganta pelos ecos da canção.

Jorge é um nome fictício.

Podeira ser João, quem sabe até Anunciação.

Se menina ou menino, o que vale é a inspiração.

Hoje Jorge despenca da obra em construção.

Deixa na Terra um poema, registro da alucinação.

"Sou menino passarinho, na terra não fiz um ninho, meus fihotes desgarrados, pelo som do rock pesado, me atiram direto ao chão.

Sou menino passarinho.

Sou psicótico viajante, sou eu o Homem-menino, super - homem vadio, percorri meu mundo vazio.

No espelho o perdão que não soube realizar."

Apenas menino passarinho com vontade de voar!