UM CENTAURO NA AMAZÔNIA

(Hull de La Fuente)


Cap. VIII





_Eu sou um semideus, tenho poderes. Não preciso de alucinógeno. No meu planeta todos têm um tipo de poder. Lamento que no seu mundo não seja assim.

_Nós, os xamãs, temos poderes , mas agora eu vejo que os nossos poderes não são nada perto dos seus.

Os jovens saíram da gruta e andaram em direção do rio, ambos tinham sede. Mas ao se aproximarem das margens, viram urubus sobrevoando os céus e sobre as águas milhares de peixes mortos, flutuavam. Kalibe olhou desolado para a cabeceira do rio e explicou o que estava acontecendo ao visitante.

_São os homens que mataram os meus pais. Eles estão rio acima. São garimpeiros de ouro. Eles usam veneno pra limpar o ouro... Agora você vê o resultado da maldade deles. O veneno acaba com os peixes e também é ruim para os animais e pra nós. Ninguém pode beber da água. Garimpeiro só gosta de ouro, não gosta da vida, não respeita homem que vive na mata, não respeita nada.

Kalibe soluçou diante do centauro.

Então Kirone pegou o arco e uma de suas flechas e mirou a cabeceira do rio Ericó. A flecha voou veloz, num assobio fino. No mesmo instante, maravilhado, Kalibe viu os peixes mortos desaparecem e as águas tornarem-se claras. Vários animais se aproximaram das margens para matar a sede. 

Os pássaros começaram a cantar rompendo o silêncio de morte que antes imperava na mata. O centauro mergulhou nas águas e convidou o índio a fazer o mesmo. Quando voltaram à tona, a flecha lançada por Kirone pousou lentamente de volta na mão dele. 

Kalibe, para mostrar gratidão ao centauro, lançou uma flecha nas águas límpidas, pegou um grande e apetitoso pintado e de posse de alguns galhos secos, começou a fazer fricção em busca do fogo. O centauro entendeu qual era o objetivo do índio e num movimento imperceptível fez surgir a chama. Enquanto o peixe assava, o índio contou o que sabia da história e costumes de sua gente, e falava grego, sem perceber.
 
Quando o peixe assou, Kalibe o dividiu com o novo amigo. Depois, rindo comentou: é a primeira vez que eu vejo um cavalo comer peixe. Os dois riram e seguiram em direção da cabeceira do rio.

Continua...
Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 15/09/2008
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