A Cigana e o Anjo Caído
 
         Ainda que seguisse em frente, Cigana Cassandra sentia o peso das costas no mundo. As dores da menina ainda persistiam em sua carne, pois ela era uma parte dela, que tinha se desprendido há tempos.
         Na estrada em que ainda seguia, avistou um acampamento de pessoas comuns. Assim, meio como quem não quer nada foi se chegando. Sorrisos para um lado, leitura de mãos em outros, baralho cigano, danças... Cassandra sabia cativar a quem quisesse e se deixasse cativar.
         A noite foi caindo devagar, uma fogueira acessa e muitas historias para contar. E de repente, um vento carinhoso e conhecido lhe tomou o corpo em face de lampejo. Em uma luz, ele reapareceu em sua frente: O Anjo Caído.
         - Continuas o mesmo encanto de mulher, Cassandra! - eis que o Anjo falava sob um tom saudoso com a Cigana.
         - De você não posso dizer o mesmo, Anjo! Já não és mais belo com antes, não és mais Anjo, esqueceu! – um tom de instigação a Cigana falava.
         - Vejo que não mudou muito, ainda és arredia! – sorria o Anjo.
         - Sou uma cigana, não uma anja como a Poetisa! – falava a Cigana com um nó na garganta.
         Por um longo período de tempo ficaram a se olhar... Calados e arredios. Conheciam seus defeitos como ninguém sabia de seus passados e futuros, e de como o coração de um e de outro pulsava.
         Lembranças virem à tona. Em um olhar Cassandra enfrentou o Anjo, que se estremeceu com sua voraz essência. Num relance ela se pôs a frente dele, lhe entregando uma moeda.
         - A moeda! Já tenho a sua e a da Menina comigo, Cassandra! – tirando as duas moedas do bolso, vindo a mostrar a Cigana as moedas dizia o Anjo.
         - É a Poetisa! Faltava ela... Como vejo seu coração petrificou, a ela! – ainda sob o olhar avassalador, Cassandra o enfrentou lendo seus pensamentos e suas dores. Vendo que o tom de confusão nunca existirá, nunca houve amor pela Poetisa.
         - Você não pode ler meu coração! Levá-la-ei comigo, sempre! Ela sempre será minha Relíquia, mesmo você não querendo! – dizia o Anjo, já as lagrimas.
         - Sua relíquia, já morreu! Eis que sua alma descanse no Jardim Suspenso de Eurídice. Não fostes integro o suficiente, para amá-la. Deixaste de ser Anjo e passaste ser um Humano como tantos outros, seres encantados. A mataste! Seu déspota! – aos berros Cassandra agredia o Anjo Caído.
         - Você não está em mim para saber o que sinto! Adeus - em um clarão repentino o Anjo Caído sumiu. Deixando Cassandra a esbravejar.
         Cassandra uma mulher complexa e ainda Cigana, em seu lastimo momento de dor por recordação a Poetisa, que era seu outro eu, se, pois a chorar em preces a Santa Sara. Ela tudo veria e conseguiria acalentar o seu coração pela morte da Poetisa.
         Ao alvorecer, já acordada, se, pois a caminhar novamente... e um vejo lhe visitou, lhe dizendo:
         - Você não está em mim para saber o que sinto! – Um sussurro do Anjo Caído.
         Em sua toda sabedoria Cassandra se, pois de volta ao caminho contrario. Não voltou a olhar para trás, mas sim a caminhar. Queria apenas velar a sua dor novamente. Por ter sentido o amor ainda existente no coração daquele ser. Precisava achar a Menina, para que enfim, fizesse a Poetisa ressurgisse das cinzas de Eurídice.
         Entre caminhos e certezas ainda obscuras, ela sabia que precisava se reencontrar, mesmo que isso lhe significasse sua morte... Ela só não contou com um golpe da sorte. O reencontro com o gitano Elliel... Tudo mudaria depois desse encontro, de um re-dobrar de estrada...
         Um olhar, um silencio, lembranças e desejos... Algo avassalador, esperava novamente por Cassandra.
 
        
 
 
 
Samara Lopes
Enviado por Samara Lopes em 18/09/2008
Reeditado em 20/09/2008
Código do texto: T1184330
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