A Poetisa e o Anjo Caído
 
            Em uma terra muito distante, onde o amor ainda era algo não tão efêmero como hoje. O sentimento do Anjo Caído e da Poetisa foi gerado antes mesmo da existência plena da humanidade.
         Num jardim de tulipas em que árvores guiavam o canto em coro das andorinhas da terra perdida, a Poetisa se se recostava toda tarde antes do pôr do sol em um Carvalho de mais de cinco mil anos, para versejar sobre suas fraquezas e natureza. Fora gerada em pleno amor, mas fora abandonada ao relento por seus pais, onde fora criada por um Mago, que lhe ensinou o dom da palavra. Após a morte de seu mentor e pai, a Poetisa, pois apenas a escrever versos de esperança durante sua vida e ressoar aos ventos bons que sempre a visitavam toda tarde dessa terra perdida.
         Por esses tempos, o Anjo Caído vagava pelos céus do purgatório, onde numa busca incessante fora destinado a terra para pagar o resto de seus pecados na terra, em busca da Redenção eterna. Assim, pelas tarde do mundo sem fim, tornava-se a planar pelos ventos que não lhe acariciavam a pele frágil de Anjo, mas sim cortavam em filetes a sua profana carne de ser não mais que celestial.
         Em um de seus vôos onde por ocasião conheceu um Corvo, dotado de extrema inteligência, tornaram-se amigos em suas divagações pelo céu desse mundo. Em um vento leve e doce lhe envolveu e lhe deu o aconchego no coração que não sentirá há muito tempo. Senti que sua redenção estava próxima. E se deparou com uns versos ressoantes aos céus:
         - Versos simples de coração puro... – sob suspiro ao sorrir disse o Anjo.
         - Pequena Poetisa de alma intensa – sorria o Corvo ao falar.
         - Poetisa? – indagou o Anjo demonstrando curiosidade.
         - És ela! – Apontando com sua frágil asa, o Corvo em direção a Poetisa.
         O lampejo de tocante sentimento invadiu o Anjo Caído, fazendo seus turvos olhos brilharem como duas esmeraldas recém-lapidadas. O encanto do sublime carinho envolveu o coração de pedra dele, que voltará a bater em compasso sem ritmo e de extrema felicidade. Pois ela agora se tornará sua felicidade, sem ao menos tê-la tocado. Envolto no clarão de seu novo sentir, ele se desequilibrou e despencou dos céus, caindo sobre o Carvalho em posterior aos pés da Pequena Poetisa com alma de Menina e Cigana.
         Um susto de sorriso composto pelo raio de sol da esperança, a Poetisa recebeu o atrapalhado Anjo Caído, aos seus pés. Com a leveza do carinho presente em sua alma, ela o tocou, e o brilho mágico do amor os envolveu. Os olhos negros da Poetisa brilhavam sua pele de seda de cor amorenada, em seus cabelos cacheados loiros e expressões faciais ainda de uma Menina, ela acolheu aquele que viria a ser seu amor de outras vidas.
         - Mais cuidado da próxima vez, Anjo! – sorrindo disse a Poetisa.
         - Não há como não cair diante de tanto, encanto seu... – disse o Anjo.
De longe o Corvo acompanhava o desenrolar da historia, que pouco tempo durou. A permanência do Anjo Caído na vida da Poetisa, muitas coisas mudaram, o Sol pode se reencontrar com a lua e viver o proibido amor.
         Beijos e dizeres foram devotados por dois seres imaginados. Promessas que o nunca foi tão presente em palavras. Por longos anos luz viveram em seu jardim de tulipas e rosas vermelhas, se alimentado do sentir presente nele e de suas essências de calor intenso do amor. Seus desejos foram completados, seus sonhos plantados em uma terra fértil, na iminência de olhar o mar. Musicas embalaram esse romance, graças e vontades completadas. Mesmo um sendo humano e outro divino, o encontro de almas, dos “eus” tão buscados.
         Um intenso e caloroso amor, eles viveram até o ultimo momento em que lhes foi tirada a união deles. As maculas do Anjo Caído falaram mais alto, de tal forma que ele se arrependeu por ter sido destinado a esse carma, de ser Anjo Negro, e não divino. Cair novamente na desgraça do purgatório, sendo tirada a força dos braços de sua Poetisa, que se dividiu em três.   
         A menina, de atos modelados pelos ventos e pensamentos sensatos. Alma livre e infantil de verdade. A Poetisa, humana em versos e prosas que sofre em costurar diariamente o coração dilacerado. A cigana, mulher forte e sofredora, temperamento difícil e sempre maculada.
         O Anjo partiu, sem dar satisfação, deixando a Poetisa ao chão, no jardim banhado em sangue que coloriu os girassóis da terra, assim, a Poetisa sobreviveu até o momento de sua morte...
 
 
Samara Lopes
Enviado por Samara Lopes em 24/09/2008
Código do texto: T1193828
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