A criança e a formiga

Ela adorava brincar, pular que nem pipoca e dar piruetas sem parar.

Seu mundo era um sem-fim de risos, alegria, diversão e encantamento. Era uma criança na fase mais angelical que a natureza proporciona a todos nós na doce inocência da vida.

Certo dia ela avistou no quintal de sua casa um bichinho horrendo que lhe chamou atenção. Algo que tocara seu coraçãozinho e a enchera de surpresa como nunca, pois jamais havia visto uma criatura tão incrível, lutando sozinha; bravamente, pela sobrevivência. Era uma formiguinha carregando seus víveres, e a criança passou a chamá-la de “fumuguinha”. Para ela qualquer fumuguinha que lhe aparecesse era sempre a mesma de todos os dias, pois ela nunca morria. A criança se encantou.

Esse animalzinho insignificante, que não podia falar, encheu-na de curiosidade e a criança observava atenta e cuidadosa aos seus movimentos rápidos, na vontade mais louca de chegar a seu destino, que ao certo não se sabia aonde, correndo em zigue-zagues para lá e para cá; levando em seu dorso uma folha gigantesca e muito desproporcional ao seu tamanho e peso.

Daí em diante a formiga transformara-se no seu brinquedo predileto; no seu passatempo indispensável, enchendo-a de dúvidas e de perguntas que só os adultos teriam respostas: por quê ela tem que carregar este peso tão imenso? Por quê ninguém a ajuda? Para onde ela vai? Onde ela mora?

Ela conversava com a formiga tocando-a com uma varinha, e em monólogo dizia:

- Sabe fumuguinha, eu queria ser igualzinho a você: muito forte e corajosa.

A criança chamava sempre a sua mãe para compartilhar das brincadeiras, o que era muito divertido e dela ouvia dizer:

- Sabe filho, este é o fardo que Deus deu à formiguinha para que ela possa sobreviver. Cada um de nós tem seu próprio fardo.

A criança ouvindo atentamente aquelas palavras se descuidou, e ao manipular a varinha ela quebrou uma das pernas da formiga, e chorou; chorou inconsolada, chorou amargamente. Achava que o mundo havia acabado para a “coitada” – como assim a definia -.

A imagem daquela tragédia ficaria reservada em sua mente e ela cresceu sem nunca esquecer o trabalho valoroso da formiga, que passou a ser um símbolo na sua vida adulta. E sempre que encontrava alguém desanimado, assim ela dizia:

- “Não se deixe abater, não desanime, lute com seu próprio fardo que o mundo lhe será melhor. E voltando a ser criança ela dizia: seja uma “fumuguinha”.

O autor, São Paulo – Nov/2008

José Pedreira da Cruz
Enviado por José Pedreira da Cruz em 07/11/2008
Reeditado em 03/10/2009
Código do texto: T1270644
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.