Rumo Polo Sul

R U M O P O L O S U L

O Tucano Estilizado cansou de tanto verde. Viu, num disco do Ramones, o desenho de seu parente distante, o pingüim e quis conhecê-lo.

Mas como não entendia nada de geografia, pensou que estava certo o que viu no disco, e foi dar no Pólo Norte. Aí, encontrou um Esquimó e este disse-lhe que pingüins, só no Pólo Sul.

TUCLIZ tentou não perder a viagem, e, como brasileiro que era, disse:

- Mas você não pode dar um jeito?

O Esquimó pensou...pensou e disse:

- Bom, talvez lá pra perto da Aurora Boreal...talvez lá...

TUCLIZ foi na direção indicada. Quando avistou as cores da AB, lembrou de seu chá de cipó e achou que tinham muita sorte os habitantes do Pólo Norte por terem alegrias de graça ( e naturais).

O Pingüim estava sentado ali, observando o espetáculo. TUCLIZ aproximou-se e cumprimentou-o.

- Olá, parente! Sou o Tucano Estilizado e venho lá de um país quente.

O pingüim olhou-o e falou:

- Sou o Pingüim Errante e nunca ouvi falar em parentes distantes.

- É, mas por lógica, devemos ser parentes. Pelo menos ambos temos penas, não é, senhor PIGER?

- É mesmo? E o Sr. , o que faz por aqui?

- Ah! Lá no Braz é muito quente e também tudo é sempre verde, verde, verde!

- Bom, por aqui é tudo muito frio e tudo é sempre branco, branco, branco!

- É , não havia me apercebido disso.

- Pois é, conheço uns carinhas que vivem num lugar muito molhado, sempre azul, azul, azul!

- Pois é, lá perto da onde eu moro, tem lugares onde (pode acreditar!) vivem uns tais de pardais. Ali é um lugar muito mormacento e enfumaçado e sempre cinza, cinza, cinza!

Há outros que voam (e ainda não consegui descobrir se são meus parentes) e vivem em lugares escuros onde tudo é sempre preto, preto, preto!

- Bom, diz PIGER, nas minhas andanças conheci alguns que podiam viver em qualquer lugar que se possa imaginar, e ali não havia calor nem frio e tudo era sempre colorido, colorido, colorido!

TUCLIZ imagina saber do que fala PIGER e enquanto ia escutando o que ele falava, começou a sentir frio, muito frio. E a cada momento, mais frio sentia. Então disse:

- PIGER, minhas penas não me ajudam como as suas lhe ajudam. Que faço? Estou morrendo de frio!

O Pingüim Errante já havia percebido a situação do Tucano Estilizado, porém, ele também sabia que não havia muito o que fazer, e foi sincero com TUCLIZ.

- Ora TUCLIZ, não são as penas que me protegem do frio. E não sei o que fazer. O sol está se indo. Se você puder agüentar até ele nascer novamente, acredito que com seu calor, você se esquentará o suficiente.

TUCLIZ aliviou-se. Ora, o que era agüentar uma noite de frio? Ele iría andar por aí com PIGER, conversariam sobre tantas filosofias ( e, nada melhor que isso para isolar-se momentaneamente do mundo, mesmo que dele se esteja a falar). TUCLIZ contaria as coisas bonitas que haviam lá na selva; contaria dos seus vôos sobre as altas árvores e tantas outras coisas, que até ele já estava surpreendendo-se de que a sua vida lá fosse feita dessa maneira. É, ele agüentaria bem e tudo seria bom. Ele entenderia muito mais sobre todas aquelas coisas e sobre tantas outras coisas que, por certo, PIGER lhe contaria. É, tudo seria bom quando o sol voltasse....

Seis meses depois, VEGAL, o Velho Galo, canta para o sol que novamente nasce. VEGAL aprendeu que não são as penas que protegem contra o frio rigoroso dali.

No Pólo Norte existe um Velho Galo, igual a todos os galos do mundo. Mas seu canto é especial, pois ele canta apenas uma vez por ano...

17 de fevereiro de 1991

César Piscis
Enviado por César Piscis em 16/11/2008
Código do texto: T1286566
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