A louça louca que amava o pires-heclético e que odiava o bulês-burguês
A louça-louca que amava o pires-heclético e que odiava o bulês-burguê.
No amanhecer sombrio do pré-dia da visita aos desaparecidos, indagava-se, pesarosa e tristonha -uma Velha Louça- o que lhe reservava o tal sombrio dia.
"- Desejaria sujar de lama os pés que não possuo. Odiaria ter de entabular um papo com o Sr. Bulês Burguês. Todavia, não obstante, senão, amaria que o Pires heclético me desse uns cacos de sua piresnesca atenção."
E degladiou-se em pensamentos inúteis (para uma louçavelha) e desmanchou-se nas fragorosas, espinhentas e triviais lágrimas de barro refratário.
Quem lhe as palavras escutou, foi a Velha Chaleira de Ferro. A negrona benzeu-se e murmurou: "-Cruz-credo! Que sina de beata mal preenchida! Sai fora, desmazelada criatura!"
E lá mais longe (longe dessa cozinhesca cena), o Aparador de Unhas Degolado exila-se num silêncio
e nem ao menos dá um dos seus pensamentos para o Jornal da Comunidade dos Utensílios Casuísticos (a Associação dos Jornais de Utilidades Gerais, já alertou à redação de cujo-dito referido Jornal, que o correto seria "Caseiro". Mas a ilusão de que tal nome seja trocado, não passa de mera ilusão.
E então, a pestilenta e doentia Agulha de Tricô Descartável, grita que ninguém mais lhe atribui uma notinha sequer na barra social.
E Louça Louca segue, embrutecendo-se......por não poder amar um e ter que aturar outro.
O texto já foi dito, mas reinventa-se. E no rádio da tal casa, toca: "We are a happy family......"