Um domingo no brejo
Um domingo no brejo
qcatorze maio 89 - domingo
Uma lagartixa de um colorido muito bonito, chegou-se perto de um velho e enrugado sapo e disse, desdenhosa:
-Sapo, não que eu realmente te considere horripilante e feio, mas tu não poderias -durante o dia- te esconderes sob as pedras do brejo para que ninguém se sentisse constrangido ao achar-te nessa trilha?
O sapo olhou para a lagartixa com os olhos semi-cerrados e virou-se para o outro lado. Demonstrava, com isso, que não deseja discutir, Mas a lagartixa era insistente e maldosa e disse , irônica:
-Não, não amigo. Virar-te de costas não resolve. O constrangimento dos que por aqui passam é por todo o teu ser, de costas ou de frente.
O sapo novamente virou-se, Olhou para aquela que até era meio aparentada com ele e murmurou, tristonho:
-Não te constrange que uma rosa tenha espinhos?
Os seres cínicos não entendem direito a sutiliza. Eles são assim como cavalos coiceiros que não sabem tocar tambor -nem ouvir. Por isso, a lagartixa calou-se, mas conservou um sorriso irônico na face. O sapo não conseguiu irritar-se, porém, queria a lagartixa longe dele. Então largou:
-Não que eu te ache uma covarde, mas é tão feio que percas o rabo a cada vez que presentes o perigo, Não conheço como deva ser isso, pois rabo não tenho para perder, mas deve ser horrível ter pedaços da gente perdidos por ai.
Novamente a lagartixa não entendeu, mas sentiu-se, mesmo assim, ofendida. Envermelhou-se de ódio e com tal esforço, perdeu o rabo e foi-se.
O sapo gostou.
Tinha o manjar do dia.