A Mulher que sonhava demais...

Quem olhasse o seu rosto -calmo e desanuviado- estampando um leve sorriso, juraria que Joana Albertina estava em estado de graça dentro daquele sono profundo que a sugara, e que, certamente, a levara para alguma região mágica, onde as bem-aventuranças eram abundantes como o ar que desfrutamos.

Sua respiração quase não se fazia notar como se o ar estivesse entrando por algum outro processo, dispensando com isso, qualquer tipo de movimento ou de esforço.

Fiquei então tentando imaginar o que estaria se passando com ela naquele instante; que sonho estaria sonhando, que coisa era aquela que estaria oferecendo ao seu rosto aquela máscara bonita e atraente; transmitindo aquela paz infinita que penetrava pelos meus poros, me deixando, num certo sentido, absolutamente calmo e feliz.

Sem que me desse conta fui dissolvido por um vento quente que em mim soprou, repentinamente, cuja natureza seria impossível explicar, por absoluta ignorância de minha parte, transformando-me -num piscar de olhos- em algo semelhante ao ar; pronto para, em pouquíssimo tempo, ser aspirado por Joana Albertina.

Misturado àquele precioso ar que a penetrava, invadi a sua mente, onde me alojei, e, pude ver com clareza, o que se passava no interior de seu calmo e descontraído semblante.

Ela sonhava que estava sendo tragada pelo seu próprio sonho, deixando de existir como uma personalidade e caindo num turbilhão, muito além de sua imaginação, que, por incrível que possa parecer, trazia-lhe uma calma estarrecedora, se considerarmos que deixara de existir da forma que conseguimos entender e aceitar, tornando-se parte de algo absolutamente incompreensível, para a sua limitada capacidade cognitiva... Regozijo ou êxtase seriam as palavras mais apropriadas para expressar o sentimento que se apossou de Joana Albertina naquele momento, jogando-a numa espécie de clímax da bem-aventurança, que transformaria para sempre o sentido da sua, até então, inexpressiva vida...

Quero crer que nem sempre é o conhecimento propriamente dito, que nos leva até as regiões mais sagradas e significativas da vida; onde o cessar da busca e do pensamento é, na verdade, o começo do grande encontro com aquilo que somos verdadeiramente, mas que nem desconfiamos, e, mais grave ainda, com quem não temos o menor contato, embora sejamos nós mesmos numa outra dimensão...

O encontro que ela estava tendo com essa dimensão superior de seu próprio ser, trouxe-lhe -magicamente- uma profusão de imagens, pensamentos, sentimentos, que a fazia sentir-se como um ser quase divino, e que, ao mesmo tempo, esgotava todas as angústias e impotências, inerentes à pobre e sofrida existência dos seres humanos. Joana Albertina naquele momento não era absolutamente nada, mas, sentia-se completa; invadida e envolta por sabores que jamais havia provado em sua vida.

Tragada por um redemoinho de prazeres; livre das prisões, das culpas e das ansiedades, sentindo que o seu coração disparava a bater-lhe dentro do peito, quase a sair-lhe pela boca, ela vivia aquele momento como se fosse a própria eternidade, pois havia perdido completamente a noção de tempo e de espaço.

Vivendo aquela sensação intensa e maravilhosa, nem lhe passava pela cabeça que ela pudesse ter um fim, supondo com razão, que havia encontrado aquilo que chamamos de Deus, e, cuja mão protetora seguraria a sua, para sempre...

Não lhe ocorria a infeliz possibilidade de voltar a ser a mesma pessoa de sempre, embora tivesse conquistado aquele grande consolo -coisa que a reconfortava, sobremaneira- que era o fantástico vislumbre daquilo que seria a sua busca dali para frente, e que, quem sabe um dia, encontraria de novo, para sempre...

(Se por acaso Joana Albertina não acordar desse sonho, continuando a respirar-me, talvez essa jornada prossiga...)

Aimberê Engel Macedo
Enviado por Aimberê Engel Macedo em 18/12/2008
Reeditado em 18/12/2008
Código do texto: T1341293
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.