Fogo

É moço, até que se parece "mermo" com uma delas.

Uma onça!

Mas que nem parecia. Mas tinha cheiro. A pisada, não.

"Inté" que por onde "cê" passava, se se notava, num sei não.

E eu fui me chegando. Um pouquinho aqui, um pouquinho acolá.

Te assuntava de perto e voce me espreitava de longe. Um dia cheguei mais pra perto. A gente se olhou e "inté" deu medo.

Mas "cê" era tão bonito... Parecia onça, não.

E eu fui mais pra perto. Fiquei de olho grudado nos seus e "cê" grudou o seu nos olhos meus. "Inté" que o mato pegou fogo. Eu me queimava, mas tinha medo não, moço. Tava era muito bom. Que nem cachaça boa. Descia queimando e queimava era meu corpo todo.

Queimava tanto que me fazia viver em brasa. Queria "mermo" era tuas garras em mim. Gostava "mermo" foi quando, por mim, "cê" passava a mão. Moço, doía de prazer. E eu te acarinhava as pernas já nuas e metia a mão no teu peito e gemia. Parecia onça não. Teve dó de mim. Me empurrou pra outros braços, me mandou ir embora. Fui não.

Era bom o teu beijo, o teu calor, o teu cheiro. Era bom o barulho do mato dizendo que "cê" tava por perto. "Num" vou esquecer não. Que ainda queima pelo corpo todo, as suas mãos.

Que, pelas minhas pernas, ainda queima o gosto dos teus beijos e tuas mãos ainda passeiam por entre elas. Esqueço não, moço. Mas vou sofrer. Quem vai passar a mão por mim e me aquecer? Quem vai me enebriar "inté" o mato pegar fogo novamente?

"Qui" de "ocê", quero mais não. No caminho tinha já outra onça a te espreitar. E que seu prazer parecia maior noutras bandas, longe de mim, perto das onças.

Agora estou aqui capengando. Tô com frio. O pedaço de mim que "cê" tirou tá doendo. Mas é pouco. Muito não.

Parece onça, sim. Me pegou de jeito. Só não me comeu por inteiro, por que teve dó de mim. Teve não, moço.

"Inda" "farta" mais um pouquinho. "Farta" sim.

Thina
Enviado por Thina em 26/04/2006
Código do texto: T145434