O Mercador de Felicidade

Estava sentado tranquilamente em um banco de jardim em frente da minha residência quando notei um sujeito bastante curioso. Pela aparência o senhor poderia ter mais de 75 anos. Ele era Baixo, gordinho e com uma barba bastante cheia, branca como a neve. Se estivesse vestido de Papai Noel dizendo ter vindo do pólo norte e que era o próprio, acho que qualquer um acreditaria. Mas não... Ele não se apresentou como o bom velhinho... Ele me chamou a atenção pelo cartaz que portava a sua frente e pelo sorriso franco e simpático. O cartaz dizia: Compra-se: magoas, tristezas, desilusões e qualquer sentimento negativo. Cubro qualquer oferta! Achei estranho, pois como alguém poderia comprar sentimentos? Coisas abstratas não podem ser manuseadas e muito menos comercializadas, e pior, sentimentos negativos! Pensei então: ele deve ser um louco de pedra que escapou de algum hospício aqui por perto. Mas com a minha curiosidade era muita cheguei a ele, o cumprimentei e indaguei: Bom dia Senhor! Como pretende receber o produto que comprar e o que, caso consiga, fará com ele? Com um sorriso mais largo do mundo o senhor respondeu: Meu filho, ao vender à mim as suas magoas ou tristezas te pagarei com alegria, felicidade, amor ou, se preferir, uma boa dose de amizade. É você quem decide! E quando receberes o pagamento, o sentimento que me vendeu não terá mais espaço no seu coração e entrará nesse meu baú aqui. Percebi então que ao seu lado estava uma grande caixa com quatro rodinhas pequenas. Ele continuou: Todas essas emoções negativas que vou guardando dentro do baú, levo para a casa da felicidade e transformo tudo em sentimentos puros como alegria, amizade, amor etc. Há... Todo sentimento é concreto e não abstrato, como eu sei que você pensou. Fiquei sem ação e totalmente desconcertado com a resposta do velhinho. Já sem muita certeza de nada perguntei ao ancião: Como pegar nas mãos um punhado de felicidade ou, quem sabe, de alegria se a gente não pode ver e pesar? Quase me assustei com a estrondosa gargalhado do estranho, mas simpático personagem. Quando terminou aquela manifestação de alegria ele falou: Não é necessário que algo possa ser tocado para ser considerado real e substantivo. Podemos e devemos considerar como real e concreto tudo que sentimos e podemos mensurar a quantidade ou tamanho. Veja: pode-se amar muito alguém; pode-se estar muito ou pouco alegre, pode-se ter uma grande paixão por alguém e por ai vai. E todos esses sentimentos são sentidos pelo nosso corpo quando nos tocam.

Virei as costas para aquele senhor e dei dois passos, mas retornei para fazer-lhe uma última indagação: onde ficava a casa da felicidade... Entretanto o velho não estava mais lá. Não entendi como o sujeito tinha sumido como em um passe de mágica. Perguntei a um cidadão que estava sentado em um banco da praça ao nosso lado, se tinha visto para onde o velhinho foi com aquele baú enorme e pesado. O homem me olhou de cima a baixo como se eu fosse um alienígena que tivesse vindo do espaço naquele momento e disse: Mas o senhor estava sentado naquele banco sozinho e não tinha ninguém ao seu lado. Eu comecei a pensar que estava ficando louco ou sei lá o que quando escutei a voz daquele ancião sussurrando no meu ouvido: Meu filho, a casa da felicidade esta em toda parte. Todos nos podemos fazer dos nossos lares uma casa da felicidade. Basta banir aqueles sentimentos que não prestam. Principalmente os que conhecemos como ódio e deslealdade. Esses são os que tenho mais dificuldade em reciclar. Há... Sou conhecido como Sr. Alegria e a minha casa é a felicidade. E você não esta ficando louco. É que eu não posso ser visto por todas as pessoas, somente aquelas que tem bondade no coração e clareza na alma podem me ver.

Sentei-me então novamente no banco do jardim e me pus a remoer tudo aquilo que vivenciei. Entendi então a lição do Sr. Alegria. Resolvi que daqui a diante procuraria, de todas as formas, encher de alegria e felicidade a minha casa para que a maldade, o ódio, a indiferença e a senhora deslealdade não encontrem espaço para penetrar.

Câmara Brasileira de Jovens Escritores:

Este trabalho foi selecionado para publicação no livro de contos do ano de 2009.

http://www.camarabrasileira.com/contsel09-019.htm