Kabilak: o homem de pedra

Existe no mundo, lá nas longínquas e gélidas terras nórdicas, um homem capaz de se transmutar em pedra. Tal é o seu domínio com esse poder que faz também com que ele consiga se tornar um homem pedra, assim passando a ter um corpo cinzento de pedra mesmo, impenetrável, duro. Mas consegue manter a sua forma humana.

Ele mora nas rochosas montanhas gélidas na região nórdica e não é muito amigável, prefere a solidão das montanhas e não aprecia visitas, principalmente quando não são esperadas, pois é o que sempre acontece.

A maioria das pessoas não acredita que esse ser extraordinário exista, dizem que tal homem não passa de invenção do povo, de gente que não tem mais o que fazer. Mas essas mesmas pessoas movidas pela curiosidade atravessam os quatro cantos do mundo para ir atrás de tal criatura, e quando a encontram não são bem recebidas e geralmente levam uma chuva de rochas como sinal de boas vindas e geralmente diz:

“Sumam daqui, não gosto da presença de intrusos no meu lar e se não saírem experimentarão a minha força colossal”.

Somente uma pessoa conseguiu conversar e ser recebido amistosamente por esse misantropo homem.

Essa pessoa falou comigo, mas preferiu manter oculta a sua identidade, pois não quer fama e muito menos ser importunada pelos repórteres de jornais, revistas e televisão. Então para falar desse encontro preferiu me encontrar à beira da estrada, bem longe da cidade. E assim ele começa sua história:

“Do mesmo jeito que outros, movidos pela curiosidade e inquietação de conhecer o tal homem de pedra, viajei até aquelas terríveis montanhas rochosas, pois são verdadeiramente tenebrosas, as pessoas para subi-la têm que estar munidas de extrema coragem, como era meu caso”.

Muitos me advertiram sobre os perigos dessa grande empreitada, me disseram que o homem da montanha era hostil e não gostava de visitas e sempre expulsava os curiosos com chuvas de pedras. Mas resolvi arriscar, pois sabia que se eu não escalasse aquelas terríveis rochas minha curiosidade não cessaria nunca e eu nunca me perdoaria.

Contrariando a todos, eu subi, e do mesmo modo que eles, recebi uma chuva de pedras, mas fui até o fim e consegui me aproximar dele.

Não sei até hoje por qual motivo esse homem parou de me apedrejar, mas quando eu pensava que ia ser morto, esmagado por sua temível fúria, ele me convida a sentar e me conta sua história.

O homem de pedra me disse que se chamava Kabilak e que viera de um longínquo país e seu povo, assim como ele tinha o dom de se tornar pedra e homens pedra. Era um povo harmonioso, não existia egoísmo entre eles.

Mas, esse país não existe mais segundo Kabilak, porque uma maldição destruiu tudo e todos, essa maldição era o próprio Kabilak. Segundo ele, quando é noite de lua cheia uma maldição toma conta de si e ele passa a crescer muito, se tornando um gigante imenso e colossal, ou diminui de tamanho, chegando a ficar menor que a cabeça de um alfinete. Seu tamanho aumenta ou diminui dependendo do número que alguém fala, mas isso não é nada lógico, e ninguém sabe o que poderá acontecer se algum número for falado em voz alta em sua frente.

Essa maldição destruiu seu povo quando ele era muito novo. Numa noite de lua cheia, ele aumentou extraordinariamente de tamanho, chegando a ficar da altura do Himalaia, e nisso sem querer acabou, com seu corpo gigante destruindo tudo a sua volta. Seu povo já não existia mais, e ele resolveu vagar pelo mundo á procura de um lugar ermo e solitário, aonde pudesse viver longe de todos e de tudo até o dia de sua morte.

E assim foi, ele encontrou aquelas terríveis montanhas e desde que lá chegou, passou a viver como ermitão”.

Nos despedimos, e o misterioso homem, único a falar com Kabilak, seguiu seu caminho sem jamais ser visto novamente. Em outras ocasiões tentei procurá-lo de novo, mas foi em vão, nunca mais o vi.

Daniel Tomaz Wachowicz
Enviado por Daniel Tomaz Wachowicz em 01/04/2009
Código do texto: T1517441
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